Luísa Teotónio Pereira
Para citação: TEOTÓNIO PEREIRA, Luísa; – Cerimónia de homenagem ao Arqtº. Nuno Teotónio Pereira promovida pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), Lisboa, Teatro Thalia, 20 de dezembro de 2016. Estudo Prévio. Lisboa: CEACT/UAL – Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa, 2016. ISSN: 2182-4339 [Disponível em: www.estudoprevio.net]
Resumo
Não vou recordar o percurso profissional do Pai, mas apenas lembrar que além de arquiteto de inúmeras obras, nomeadamente de habitações, em várias épocas e em vários pontos do país, baseadas em diferentes programas (unifamiliar, plurifamiliar, para pessoas com mais e menos meios, com predomínio da habitação social), ele foi também um investigador da habitação. Desde logo no âmbito do Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal (1955) e mais tarde em Lisboa quando, com Irene Buarque, realizou um trabalho sobre a evolução dos prédios e vilas de Lisboa, em particular dos séculos XIX e XX (1995) e, ainda, quando coordenou uma equipa que deu origem à publicação “Montijo, um património a preservar: arquitetura doméstica de expressão protomoderna” (2008). Foi ainda, e sobretudo, um lutador pelo direito à “habitação para o maior número” – uma frase sua, que vem do I Congresso Nacional dos Arquitetos, em 1948 e que é igualmente o título de uma obra publicada pelo IHRU e pela Câmara Municipal de Lisboa, sob coordenação científica de Nuno Portas (2013).
Palavras-chave: Pai, Teotónio Pereira, habitação para o maior número, homenagem, IHRU.
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Cerimónia de homenagem ao Arqtº. Nuno Teotónio Pereira
promovida pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU)
Lisboa, Teatro Thalia, 20 de dezembro de 2016
Senhor Secretário de Estado,
Senhor Presidente do IHRU,
caros amigos e amigas
Agradecemos a concretização desta homenagem e também a oportunidade de dizer algumas breves palavras.
Esta iniciativa faz-nos muito sentido. Fundamentalmente por duas razões: porque foi esta a instituição que o Pai escolheu para doar o seu património ligado à intervenção em arquitetura e urbanismo, o qual foi acolhido, preservado e disponibilizado com o maior profissionalismo, que aproveitamos a ocasião para agradecer; e porque uma boa parte da sua vida foi dedicada ao objeto do Prémio do IHRU: a habitação e a reabilitação.
Não vou recordar o percurso profissional do Pai, mas apenas lembrar que além de arquiteto de inúmeras obras, nomeadamente de habitações, em várias épocas e em vários pontos do país, baseadas em diferentes programas (unifamiliar, plurifamiliar, para pessoas com mais e menos meios, com predomínio da habitação social), ele foi também um investigador da habitação. Desde logo no âmbito do Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal (1955) e mais tarde em Lisboa quando, com Irene Buarque, realizou um trabalho sobre a evolução dos prédios e vilas de Lisboa, em particular dos séculos XIX e XX (1995) e, ainda, quando coordenou uma equipa que deu origem à publicação “Montijo, um património a preservar: arquitetura doméstica de expressão protomoderna” (2008). Foi ainda, e sobretudo, um lutador pelo direito à “habitação para o maior número” – uma frase sua, que vem do I Congresso Nacional dos Arquitetos, em 1948 e que é igualmente o título de uma obra publicada pelo IHRU e pela Câmara Municipal de Lisboa, sob coordenação científica de Nuno Portas (2013).
Nos últimos anos manteve-se preocupado com a questão da habitação. Falamos muitas vezes das demolições, diria “selvagens”, de bairros no concelho da Amadora, dos despejos de inúmeras famílias provocados pela crise. Ainda hoje um jornal indicava que desde março de 2014 houve uma média de 5 famílias, por dia, despejadas das suas habitações. É um problema que não desapareceu, que se aprofundou com as políticas de austeridade – que o tornou deliberadamente invisível – que deixa profundas sequelas, e que temos de enfrentar, com lucidez e determinação.
Foi dos primeiros a insistir na necessidade de uma aposta séria na reabilitação. Em1998 escreveu sobre a reabilitação nos bairros históricos de Lisboa e daí em diante foram muitos os artigos e intervenções sobre o tema. Hoje, a reabilitação está, felizmente, na ordem do dia. Mas exige uma mudança de mentalidades, de hábitos, de políticas. Lembro-me de uma inspirada conversa que tivemos, imprevista, há talvez 3 ou 4 anos, que tive pena de não ter gravado, sobre a formação dos arquitetos a esta luz, do que seria necessário alterar. Esta prioridade está em linha com a criação de sociedades mais justas e mais sustentáveis, mais equitativas. Com economias contra o desperdício, com um consumo responsável, em que produzimos menos, compramos menos e recuperamos mais.
Hoje celebramos particularmente as facetas de Nuno Teotónio Pereira ligadas à habitação e à reabilitação. Outras, inseparáveis, porque habitando e coexistindo na mesma pessoa, ficam na sombra: o urbanista, o articulista, o fotógrafo, o geógrafo amador, o militante católico de uma certa época, o ativista social e político de sempre… Traços comuns foram as fortes convicções e a determinação de as traduzir em práticas concretas. É disso que continuamos a precisar.
Luísa Teotónio Pereira