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Madalena Mira

Recensão crítica de O livro de Lisboa, coordenado por Irisalva Moita.

Creative Commons, licença CC BY-4.0: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

Lisboa foi Capital Europeia da Cultura em 1994. A empresa promotora da iniciativa apoiou a edição de uma obra que se transformou em clássico, O Livro de Lisboa, “uma síntese sólida, competente e rigorosa da História de uma capital mais antiga que a própria nacionalidade” nas palavras de Elísio Summavielle, Administrador da Lisboa 94 (p. 6).

O Livro de Lisboa oferece-nos uma cidade-estrela, com muitas pontas na perspetiva histórica, social, artística mas também de fronteiras políticas há muito desenhadas. Uma cidade fatiada mas integrada, uma entidade viva cujo ritmo se mantém desde tempos quase imemoriais, com cerejas no topo, consubstanciadas na análise da monumentalidade, casos da Torre de Belém ou do Aqueduto das Águas-Livres, entre outros, na observação das mentalidades com, por exemplo, o Teatro Nacional de São Carlos, ou a vivência do espaço público, com o Passeio Público e a Avenida da Liberdade, ou ainda com perspetivas urbanísticas, com o Bairro de Alvalade, fémur da cidade.

Ao majestoso e visível à distância – a olho e no tempo – junta-se o olhar próximo das portas dos mosteiros, dos altares das igrejas, das fachadas dos palácios, das escadarias monumentais, dos quais se desce para observar o detalhe do azulejo, a inscrição no prédio, os pormenores dos desenhos de época. O pequeno equilibra-se com o grande, em leituras múltiplas e variadas, elevando valores estéticos de diferentes períodos históricos que convivem até hoje para nossa riqueza.

A talha, a pedra, a madeira, o barro, o azulejo, o metal, mas também as mentalidades, são materiais que desfilam, já modelados e lapidados, pelos diferentes períodos históricos, onde se alinham e encaixam sob a forma de objetos, jardins, vias públicas, monumentos, mas também comportamentos e atitudes que ditaram rumos e percursos da cidade de Lisboa, ora balizados por legislação ora caminhados por vontades férreas, dinásticas ou republicanas.

O Livro de Lisboa apresenta uma Lisboa verdadeira, que o mesmo é dizer muitas e variadas Lisboas, coloridas, mulatas, um puzzle ainda em construção, mas aqui muito bem definido e atual. Uma Lisboa sempre em viagem, para onde convergem gentes e maneiras de pensar, uma Lisboa conquistadora que regressa diferente e se tinge com a cidade que ficou, uma capital que acolhe pessoas e ideias, uma amálgama de idas e vindas, próprias e alheias, de influências e prestígio, uma cidade empenhada em crescer com sinergias e associações díspares. O Livro de Lisboa evidencia que nesta cidade sempre coube tudo.

O livro, objeto olisipográfico, viaja da pré-história ao século XX, dividindo-se em onze capítulos amplamente ilustrados com fotografias, mapas, maquetes e reproduções de documentos, fruto de laborioso trabalho de recolha conseguido num quadro amplo de colaborações de arquivos, bibliotecas e reforços de particulares, e com contributos de vinte e três esclarecidos autores, coordenados pela mão reconhecida da conservação patrimonial e durante mais de duas décadas diretora dos Museus Municipais de Lisboa, Irisalva Moita: A.H. de Oliveira Marques, Ana Tostões, António Borges Coelho, Cláudio Torres, Clementino Amaro, Fernando Batista Pereira, Fernando Castelo-Branco, Irisalva Moita, João Fagundes, Joaquim Oliveira Caetano, Jorge Custódio, Jorge Gaspar, José Manuel Fernandes, José Meco, José-Augusto França, Leonor Ferrão, M. Maia Ataíde, Miguel Soromenho, Nuno Saldanha, Paulo Pereira, Rafael Moreira, Raquel Henriques da Silva e Vitor Serrão.

Para o sucesso desta edição concorrem igualmente o grafismo de Eduardo Moura e a experiência da casa editora, os Livros Horizonte. Exemplar disponível na Biblioteca da Universidade Autónoma de Lisboa.

 

MOITA, Irisalva, (coord.) (2004) – O Livro de Lisboa. Lisboa: Lisboa 94; Livros Horizonte.