Mónica Pacheco
Arquiteta, mestre em Housing and Urbanism pela Architectural Association, doutoranda em Arquitetura (FA/UTL). Assistente no Departamento de Arquitetura e Urbanismo do ISCTE –IUL, investigadora do CIAAM e DINÂMIA-CET.
Para citação: PACHECO, Mónica – Suburbanismo, sobre uma potencial autonomização disciplinar. Estudo Prévio 1. Lisboa: CEACT/UAL – Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa, 2012, p. 92-109. ISSN: 2182-4339 [Disponível em: www.estudoprevio.net].
Resumo
Falar do subúrbio do ponto de vista da sua produção, reprodução e consumo implica olhar para o seu significado em termos de representação. O termo não tem um significado autónomo e a sua ambiguidade assenta no seu caráter marginal, periférico, mas também no paradoxo que corporifica: simultaneamente uma fuga à cidade e um fantasma desta, autodestrutivo, que é preciso transformar. Esta ambiguidade fez também com que, desde sempre, os arquitetos procurassem urbanizar o suburbano, ou suburbanizar a cidade. Isto reflete a ausência de autonomia do subúrbio enquanto corpo de investigação, bem como a inexistência de um discurso sobre o suburbano com referenciais próprios, que não os da prática tradicional do urbanismo. Ao continuarmos a pensar o subúrbio como um mal a eliminar, arriscamo-nos a nunca nos envolver com as suas verdadeiras questões, a tentar mascarar o suburbano de urbano, a continuar a negar a sua natureza distinta. Descobrir o suburbanismo como disciplina, e o subúrbio como projeto é o grande desafio do arquiteto contemporâneo.
Palavras-chave: suburbanismo, suburbanizar; suburbia, marginalidade, arquitetura.
Suburbanismo, sobre uma potencial autonomização disciplinar
“Many people like suburbia.”(VENTURI, BROWN e IZENOUR, 1977)
1. Subúrbio, um caso marginal
Falar do subúrbio do ponto de vista da sua produção, reprodução e consumo implica olhar para o seu significado em termos de representação. A palavra tem origem no latim suburbĭum (sub+urb+ium), designando um lugar em condição de inferioridade no sentido em que, estando na proximidade de uma cidade (do latim urbs[1]), se encontrava em estrita dependência desta, carecendo das suas qualidades. A palavra francesa suburbetinha no séc. XV outra equivalente: faubourg, uma transformação da expressão faux bourg, designando uma falsa cidade, o que significa que os subúrbios eram vistos como sendo inautênticos.
O termo não tem um significado autónomo. Nem cidade nem campo, a sua condição física e espacial é definida por aquilo que aqueles não são, simultaneamente reconciliando e negando as diferenças entre vida urbana e rural e, consequentemente, personificando uma contradição essencial entre as duas. Em 1922, Lewis Mumford descreveu o subúrbio do seguinte modo:
“The growth of the metropolis throws vast numbers of people into distant dormitories where […] life is carried on without the discipline of rural occupations and without the cultural resources that the Central District of the city still retains.”[2]
Esta ambiguidade, caracterizada por princípios de dissemelhança, remete o subúrbio para um interstício onde cidade e campo se cruzam numa tensão simultaneamente social, cultural e espacial.
A cidade foi, desde sempre, o local privilegiado da vida política, refletindo o seu poder governativo. Ao atravessar os seus limites, físicos ou simbólicos, entrava-se no “ponto de concentração máxima para o poder e a cultura de uma comunidade”[3], num mundo eticamente definido por princípios de autoridade, assentes nas estruturas de suporte do poder. Pelo contrário, o subúrbio encontrava-se conotado com a ausência de vida política. Uma palavra inglesa equivalente a suburb foi underburg, que significava “perto das multidões mas fora do alcance da jurisdição municipal”[4]. As cidades, como define Spiro Kostof, são lugares que têm alguma circunscrição física, quer seja material ou simbólica, para separar aqueles que pertencem à ordem urbana daqueles que não pertencem[5].
Cidade medieval de Arles, gravura (1686).
Em The Fall of Public Man (1974), Richard Sennett descreve como a vida nas cidades, a vida política, era determinada por um conjunto de convenções que sempre regularam as relações impessoais em público na cultura ocidental. Estas convenções — civilidade, cortesia, polidez — estabeleceram anteriormente limites civilizacionais entre as pessoas e promoveram o cosmopolitismo e a civilidade. Esta partilha de um código comum de sinais públicos permitia que indivíduos socialmente heterogéneos coexistissem de modo civilizado.
A distinção entre urbano e suburbano, que etimologicamente é geográfica e territorial, tem contudo subjacente uma definição essencial: ser suburbano significa a ausência de urbanidade, é ser periférico, é ser marginal, é negar a vida política. As cidades presumem governação; o dever das elites é governar; e o propósito da governação é civilizar o campo.
O adjetivo urbano encontra-se conotado com características que não são diretamente do foro da arquitetura, mas que remetem para uma espacialização do relacionamento humano.
Ser urbano significa que se é afável, cortês, bem-educado, que se tem uma atitude de respeito perante os outros cidadãos, em suma, que se é civilizado. Ser civilizado, por seu turno, exige uma determinada capacidade, ou desejo de relacionamento, de estabelecer contacto com outrem, que permita a vida urbana, em sociedade. A própria palavra civilidade tem origem na palavra latina civilĭtas, que remete para ciência política ou de governação.
O termo suburbano (do latim suburbānus) define precisamente o contrário. No século XVII, especialmente em Londres, o termo subúrbio era conotado com o sentido de inferior, degradado, com hábitos ou vidas ilícitas. A expressão suburban sinner, por exemplo, significava na gíria uma mulher fácil ou prostituta.
Deste modo, não será por acaso que os termos subúrbio e suburbano foram gradualmente incorporando o nosso léxico e imaginário para definir lugares e indivíduos “grosseiros, provincianos e rudes”[6], que não apresentam traços de civilidade não sendo, portanto, nem polidos, nem delicados.
2. O declínio das cidades
Esta expressão quase invisível da periferia manteve-se um fenómeno relativamente ignorado até ao advento da Revolução Industrial, altura em que passa a incorporar, de forma explícita, os debates sobre urbanismo.
A Revolução Industrial conduziu a uma crescente urbanização, ao declínio da população camponesa, que aflorava as grandes metrópoles à procura de melhores condições de vida, e à gradual desertificação do mundo rural.
Este processo de crescimento urbano não foi, contudo, pacífico. De início, as primeiras grandes fábricas dependiam totalmente de água corrente, necessitando para isso de se localizar junto às margens dos rios — uma vez que a utilização das suas máquinas assentava na energia cinética latente da água corrente — e das cidades, onde se encontrava mão de obra, facilidade de acessos e proximidade de transportes e de portos. Para os operários, viver na proximidade do local de trabalho não só era aceitável como também desejável, já que significava um menor tempo de comutação casa-trabalho. A crescente procura de habitação junto aos locais de trabalho, nomeadamente das fábricas, resultou numa enorme especulação imobiliária, cujo aumento das rendas obrigou grande parte das famílias (maioritariamente operários fabris ou trabalhadores portuários), sem capacidades económicas para as suportar, a subarrendar quartos, normalmente sobrelotados e sem as mínimas condições de habitabilidade: má ventilação e iluminação; saneamento de esgotos e despejo de lixos domésticos deficientes; instalações sanitárias compartilhadas ou mesmo a sua inexistência. O ar e água das cidades encontravam-se poluídos; o tráfego congestionado; os espaços abertos (nomeadamente para enterrar os mortos) reduzidos; e, em muitos bairros, verificava-se a ausência total de água — “ocasionalmente, os pobres iam de casa em casa nas zonas da classe média, implorando por água, como poderiam pedir pão durante uma crise de fome […] ”[7]. Nestas condições proliferaram os surtos de cólera e tuberculose, especialmente nas décadas de 30 e 40 do século xix na Europa Central e Inglaterra.
Hector Gavin, ilustração da “degradação física e moral” da habitação e da população do bairro londrino de Bethnal Green(1848).
A cidade tradicional viu-se de súbito extremamente densificada, as ruas existentes não estavam preparadas para os novos meios de transporte nem para as atividades comerciais emergentes e os novos equipamentos (hospitais, manicómios, quartéis, prisões, asilos, mercados, matadouros, pavilhões para exposições, escolas públicas, etc.) não se coadunavam com as estruturas urbanas existentes. A transformação do mundo ocorria a uma velocidade muito superior àquela que a cidade tinha capacidade para acompanhar e se adaptar, resultando num desequilíbrio inesperado e caótico que urgia ordenar, quer do ponto de vista espacial, quer social. Isto não significa que não houvesse bairros degradados anteriormente, mas estes não só se multiplicaram vertiginosamente como se tornaram cada vez mais populosos.
Em meados do séc. xix, Friedrich Engels manifesta a sua indignação perante as degradantes condições de vida e de trabalho do operariado em Inglaterra, trazendo à discussão o paradoxo entre o grande avanço tecnológico e a miséria daqueles que contribuíam efetivamente para esse avanço: o “verdadeiro turbilhão das ruas tem qualquer coisa de repulsivo”[8].
A velocidade com que o fenómeno de urbanização se manifestava transformou a cidade num objeto de preocupações com a saúde pública e com a segurança dos cidadãos — designadamente devido à proliferação de infeções e alastramento de epidemias, e ao aumento da delinquência e do crime —, bem como com a organização, construção e saneamento do próprio espaço urbano, mas sobretudo de ordem moral:
“In a crowded room every detail of daily life was made public and familiar. Things which modesty and property would keep apart — cooking, undressing, sleeping, working, washing, bathing, defecating, urinating, fornicating, dying and giving birth — took place in close proximity in rooms empty of furniture but ‘never free of inmates’ where neither comfort nor innocence could flourish. Indeed it was frequently supposed that only crime could grow out of this pooling of raw experience.”[9]
A cidade, outrora o expoente máximo de uma civilização, passa a ser descrita como “encarnando a imoralidade, artificialidade, desordem e perigo — como o local de conspirações traiçoeiras, sexo ilícito, desvio, crime e doença”[10]
3. Suburbia: visões do paraíso
Neste contexto, o subúrbio ganha uma nova aura passando a corporificar a imagem da boa-vida, uma alternativa a uma cidade vista como não humana, correspondendo simultaneamente a um projeto ético e estético, de acordo com novos critérios de liberdade, criando uma nova posição existencial no mundo do homem moderno. Surgem então os primeiros projetos criados de raiz longe dos aglomerados urbanos, subúrbios pitorescos, cujas disposições, orgânicas e dispersas, eram vistas como a única forma de contrariar a densidade da cidade, vista como um mal maior. Estes permitiam à classe burguesa proclamar a distância física, social e moral do caos da cidade oitocentista, ao mesmo tempo acreditando poder conciliar o melhor de dois mundos: cidade e campo, natureza e cultura. Em 1869, Frederick Law Olmsted, um arquiteto paisagista, projetou Riverside, em Illinois, que o próprio apelidou de suburban village, descrevendo-a como sendo para as classes mais inteligentes e favorecidas[11]. No final do século XIX surge em Inglaterra o termo suburbia, provavelmente influenciada pela palavra utopia, refletindo uma nova imagem de ideal coletivo.
Frederick Law Olmsted, planta geral de Riverside em Illinois (1869).
O representante máximo desta utopia foiEbenezer Howard, autor do livroGarden Cities of To-Morrow (1902), título da 2ª ediçãode A Peaceful Path to Social Reform (1898). Howard aspirou resolver, ou pelo menos amenizar, o problema da cidade vitoriana.Crítico da congestão e densidade dos centros propôs aexportação de uma grande percentagem da sua população e respetivos postos de trabalho para constelações de cidades construídas em campo aberto. Proclamou esperanças radicais para uma civilização cooperativa socialista, advogando que só poderia ser cumprida em pequenas comunidades incorporadas numa sociedade descentralizada, longe das úlceras das cidades existentes. Define deste modo um modelo diagramático no qual uma série de cidades-jardim, ligadas por caminhos de ferro, formavam uma cidade policêntrica social. Todas tinham dois tipos de centros: os centros dos bairros e um centro cívico comum. Os bairros eram “fatias do bolo circular”, cada um com um sexto da cidade. A unidade básica do bairro era a família, que vivia na sua própria casa rodeada por um jardim, e a instituição do bairro mais importante a escola. A cooperação era prevista ocorrer dentro do tipo de construção nova que desenvolveu, juntamente com os seus associados Raymond Unwin e Barry Parker: o Quadrilátero Cooperativo, concebido na sua essência para o apoio cooperativo das atividades domésticas.
O conceito de Howard, que tinha uma natureza essencialmente sociológica, foi concebido para melhorar as relações familiares, bem como as relações da comunidade. A sua visão espalhou-se não só na Grã-Bretanha, mas também no resto da Europa e América, acabando por produzir uma série de variantes cuja tradução, em termos urbanos, ignorava os seus aspetos ideológicos, materializando precisamente o inverso. Estas, paradoxalmente, recorriam ao mesmo tema da comunidade — tradicionalmente defendido por aqueles que se posicionavam contra o individualismo liberal, proclamando-o como uma alternativa à sociedade capitalista e defendendo a fusão em vez da separação como um ideal social — para constituírem enclaves (que hoje tomaram a forma de condomínios privados) — que, como argumenta Iris M. Young, tem “sérias consequências políticas, pois negligencia as diferenças entre os indivíduos e, portanto, incita o racismo”[12], legitimando-o, operando fortemente para produzir comportamentos defensivos excludentes, relativamente a indivíduos e grupos desviantes. Estas cidades-jardim transformaram-se numa espécie de “gueto voluntário”, usando as palavras de L. Wirth no seu livro sobre a história do gueto judeu, um produto desejado de distância social de “estranhos”, criando barreiras ao contacto indesejado.
4. A suburbanização do urbano
No entanto Howard e os seus seguidores defenderam sempre que as cidades-jardim não eram subúrbios dependentes de uma cidade, mas antes cidades com um certo grau de autonomia, já que teriam postos de trabalho, serviços, administração e cultura. Deste modo podemos dizer que Howard terá sido o primeiro a querer suburbanizar a cidade, conferindo-lhe uma forma e imagem suburbana mas, ainda assim, mantendo a sua independência económica, política e cultural.
O conceito de cidade-jardim, embora muito diferente em teoria, antecipou o princípio da Unidade de Vizinhança de Clarence Perry da década de 20 do século passado, tendo dominado quase quatro décadas de planeamento urbano como meio de crescimento estratégico e sustentável das cidades através de uma vida social plenamente desenvolvida.
O primeiro projeto urbano de Le Corbusier, La Ville Contemporaine (1922), era essencialmente uma reinterpretação da cidade-jardim de Howard: um centro para 600 mil habitantes, circundado por um cinturão verde em torno do qual se situam uma série de cidades-jardim. La Ville Radieuse (1930) já contém os princípios organizacionais da sua cidade ideal: unidades habitacionais em altura para libertar o terreno para espaços verdes, criando a base para projetos subsequentes. Ambos adicionam à Cidade Jardim de Howard a linguagem da arquitetura moderna, ao mesmo tempo que transformam o diagrama horizontal da Unidade de Vizinhança num microcosmos vertical — a Unité d’Habitation, que representa o elemento morfológico de organização e composição da “cidade coletivista”.
Nas suas diferenças, Howard, Perry e Le Corbusier propuseram antídotos para as cidades existentes propondo resolver não apenas o problema urbano, mas também o problema social, na crença de que a arquitetura e o urbanismo poderiam organizar e estruturar a sociedade e, idealmente, uma comunidade de interesses e aspirações mútuas, através de uma mistura social que superasse as distinções de classe.
Mas se Howard, contrariamente a todos os esforços anteriores de urbanizar o suburbano, procurou inverter este processo, criando cidades com uma imagem vincadamente suburbana, Le Corbusier procurou algo ainda mais extraordinário, uma hibridização destas duas vontades: suburbanizar a cidade e urbanizar o campo através de uma arquitetura eminentemente urbana (o bloco), numa disposição tipicamente suburbana.
Le Corbusier, Propos d’Urbanisme (1946).
5. O regresso a uma perspetiva positivista da cidade
O ideal suburbano teve diferentes graus de expressão, verificando-se a sua aceitação sobretudo em países como Inglaterra e EUA. Numa segunda fase do processo de industrialização (depois da descoberta do carvão e com o desenvolvimento dos transportes e acessos), a localização das fábricas passa a ser preferencialmente nas regiões mineiras, exigindo construções de raiz que, quando não empreendidas pelos próprios industriais, resultaram em processos essencialmente de construção informal (aquilo a que vulgarmente chamamos barracas ou bairros de lata). No entanto, apesar de o centro das cidades apresentar estas “habitações cavernosas, cuja maioria carecia de abastecimento de água individual ou instalações sanitárias”[13], a proximidade de edifícios públicos (como a igreja ou a escola) e de lojas não conduziu ao seu total isolamento, como aconteceu com algumas zonas periféricas. Nestas, o crescimento foi tal que as suas dimensões igualavam a do resto das cidades e conduziram a uma progressiva homogeneização socioeconómica e à consequente segregação espacial que não se verificava antes. Deste modo, o subúrbio — cuja imagem panfletária das bidonvilles francesas resiste até aos dias de hoje — manteve a sua conotação com pobreza, ausência de planeamento, construção informal, votado a uma classe operária sem meios para suportar uma habitação condigna no centro, determinando julgamentos sobre gosto e estilo que definem posições sociais. O subúrbio continuou, deste modo, a ser visto como uma consequência, uma excrescência, um cancro dependente da cidade e autodestrutivo, o lugar onde uma determinada ordem urbana — de ruas, espaços e transportes públicos — foi substituída por outra de estradas, vias rápidas, jardins privados e automóveis.
Georg Simmel e Jane Jacobs marcaram o retorno a uma perspetiva positivista da cidade tradicional, por oposição à metrópole moderna. Jacobs protagonizou largamente o debate e a crítica ao zonamento, à tendência para a especialização da habitação, trabalho, serviços e transportes, à tendência para a segregação, desenvolvendo um argumento sobre a dimensão ética e social do espaço. Este debate conduziu, por um lado, à nostalgia da cidade medieval pitoresca, compacta, acreditando que nesta as relações sociais eram mais intensas. Por outro, à idealização de uma estética de planeamento, geométrica e rigorosa, como a do renascimento, contrária ao desenvolvimento de padrões orgânicos e dispersos, verificados quer nos subúrbios, quer na cidade moderna.
Jane Jacobs, Death and Life of Great American Cities.
Muita da arquitetura, planeamento e urbanismo do século XX debruçou-se sobre a espacialização das relações interpessoais, partindo sempre de uma perspetiva critica idealizada da natureza desses relacionamentos. Este tipo de engenharia social e espacial não só tem um forte peso ideológico como serevela incapaz de produzir novas ideias sobre a forma urbana ou novos instrumentos de planeamento quer para as cidades, quer para as áreas suburbanas. Não surpreendentemente apenas conseguiu sugerir o retorno a modelos antigos e idealizações nostálgicas do passado.
6. A ideologia da intimidade ou a emergência da distopia social
Paradoxalmente, o imaginário coletivo da boa vida persiste ainda assim colado a imagens de suburbanidade de estética reacionária e tendências conservadoras que estabelecem uma forte relaçãocom a ideologia vitoriana da intimidade.
Houses & Homes, anúncio imobiliário (04.02.2012).
Após a década de 60 do século passado, as sociedades ocidentais, caracterizadas por preocupações de ordem social, foram gradualmente transferindo o foco das suas preocupações para um mundo interior e subjetivo, dando início, de acordo com autores como Richard Sennett e Christopher Lasch, a uma nova era caracterizada pelo individualismo, pela ênfase dada à privacidade e até mesmo pelo narcisismo, corporificando um recuo político, para preocupações puramente pessoais e de autoabsorção, cujo cultoorigina não a afirmação da personalidade, mas o seu colapso.
Ambos os autoresestão preocupados com a sobrevalorização da individualidade, embora em níveis diferentes. Sennett está mais preocupado com a erosão da esfera pública, que se reflete na democracia política, nas cidades, na educação e nas relações pessoais, e C. Lasch com os efeitos de tal cultura nas relações pessoais e no declínio da importância das famílias nas sociedades ocidentais.
Noséculo XVIII, em Londres ou Paris, a sociabilidade não dependia de intimidade — os “desconhecidos encontravam-se nos parques ou nas ruas e, sem constrangimento, podiam falar uns com os outros”[14], sem se sentirem expostos. No século XIX, porém, o equilíbrio entre público e privado tornou-se fragilizado: a esfera privada, idealizada pela família, foi concebida como um refúgio contra a sociedade e suas ameaças, corroendo os limites entre vida pública e privada.
Após o tumulto político dos anos 60, uma sensação de decadência da sociedade e perda de esperança resultou numa espécie de alienação social. Uma velha geração de hippies foi substituída por uma nova de yuppies, preocupada com a auto preservação e defesa, com o domínio subjetivo da psique e com o prazer. Tudo isso reflete uma intensa preocupação com o ‘eu’ e a vida privada é suposta fornecer um refúgio contra todas as agressões da vida diária, em particular nas grandes metrópoles. Uma sensação generalizada de insegurança e incerteza sobre uma realidade em constante mudança, e uma perda de confiança no futuro, resultou numa busca quase obsessiva por comunidades seguras e humanas, negando a essência das cidades e das novas realidades urbanas de vida da cidade. A intervenção social dos governos enfraqueceu e as forças de pressão para a privatização económica liberal deixou as cidades à mercê de interesses privados. Em nome da segurança e dapreservação da qualidade de vidadas famílias, lugares completamente artificiais vão sendo construídos em detrimento do espaço urbano das cidades.
As significativas tendências atuais no sentido da privatização estão em clara contradição com o ideal de espaço público como forma de realização da coesão social. A sociedade capitalista, altamente competitiva e conduzida por forças de mercado incontroláveis, tem sido criticada e acusada de ser responsável pela instabilidade social e pelo receio de mudanças rápidas. Um constante estado de medo, como sugerido no provocador filme de Michael Moore, Bowling for Columbine (2002), é o maior motivo para este estado mental das pessoas, refletindo-se na sociedade e esta, por sua vez, molda o pensamento cultural e popular. A procura de segurança conduz, com efeito, à privatização e controlo do espaço urbano público.
Na vida quotidiana podemos presenciar o esforço geral de negar, minimizar, conter e evitar o conflito com estranhos e, estando as pessoas a tornarem-se progressivamente menos conscientes umas das outras, cada vez mais a comunidade planeada cercada, fechada e vigiada é vendida para compradores como a própria imagem da boa vida. “Hoje, a ordem significa falta de contacto”[15].
A pós-modernidadetem sido conotada com o fim da esfera pública, com a destruição de relacionamentos de proximidade e de comunidades, e o surgimento de lugares fugazmente funcionais (autoestradas, centros comerciais, play-centers, aeroportos, intercâmbios, etc.),apelidados pelo antropólogo francês Marc Augé de “não-lugares”, que não criam nem identidade nem relações, “apenas solidão e semelhança”[16] e proporcionam “uma experiência de individualidade solitária combinada com uma mediação não-humana entre o indivíduo e a autoridade pública”[17], contrastando com “lugares antropológicos” — social e historicamente ancorados.
Menos radical perante estas novas “espécies de espaços” é Georges Perec, para quem estes não representam mais do que simulações contemporâneas de lugares historicamente consagrados e codificados:
“The activities essential to life, and most social activities, can be carried out without difficulty within the confines of an international airport: there are deep armchairs and bench seats that aren’t too uncomfortable, and often restrooms even, in which passengers in transit can take a nap. You’ve got toilets, baths and showers, and often saunas and Turkish baths. You’ve got hairdressers, pedicurists, nurses, masseurs and physiotherapists, bootblacks, dry cleaners who are equally happy to mend heels and make duplicate keys, watchmakers and opticians. You’ve got restaurants, bars and cafeterias, leather shops and perfumeries, florists, bookshops, record shops, tobacconists and sweet shops selling pens and photographers. You’ve got food shops, cinemas, a post office, flying secretarial services and, naturally, a whole host of banks (…) Seen in this light, an airport is no more than a sort of shopping mall, a simulated urban neighbourhood.”[18]
Por seu turno, Adriaan Geuze descreve descomplexadamente o homem contemporâneo, implicitamente elogiando o subúrbio, o vazio entre viadutos, autoestradas e vias rápidas, cujos espaços intersticiais podem potencialmente sugerir novas e imprevisíveis interações:
“A contemporary citizen with his mobile lifestyle and ever changing addresses and activities […] welcomes the car, the bypass and the free-way culture. The base should be designed as a drive-in, a drive-on, a drive-over. The convenience of the car and the beauty of the car are an elementary inspiration for its design. [He needs] individuality, intimacy and privacy. In the hectic contemporary life with hundreds of decisions and fragmented landscapes, [the base] should be a safe and defined spot that prioritizes enclosure before the view. The base is probably introverted and incorporates nature within instead of exposure to it. […]The classic city-neighbourhood of blocks and streets is not for the contemporary, who desires just a base. A unit from which he organizes his life and from where he jumps into the world, works, travels and gathers social contacts.”[19]
7. O projeto do subúrbio
O subúrbio é, simultaneamente, um produto de expansão urbana e um refúgio, um protesto. A extensão do território de relações, ou a sua desterritorialização, foi provocada, em parte, pelo impacto das novas tecnologias de informação, como a televisão e a internet, e pela comodificação da vida diária. Isto permite que a cultura seja, em termos espaciais, um fenómeno de dispersão, não mais concentrado nos centros urbanos, atuando como engenho de hibridização suburbana.
“Once we had to go to places to do things; we went to work, we went home, we went to the theatre, we went to conferences, we went to the local bar – and sometimes we just went out […] The old gathering places no longer attract us. Organizations fragment and disperse. […] Public life seems to be slipping away.”e[20]
Neste cenário, a cidade deixa de ser uma alternativa crítica ao subúrbio, aceitando a sua coexistência dialética de forma pacífica, senão mesmo necessária. A definição clássica de cidade – centro, limite e periferia mantém-se. No entanto, com o crescimento desmedido das áreas metropolitanas e com o fenómeno das megacidades, são precisamente esses lugares periféricos que ganham dimensão e expressão. Há uma inversão de escala, é o centro que cada vez mais se torna marginal ao subúrbio. A questão da diversidade é entendida como uma questão de escala. O espaço vazio, outrora público, tem agora um novo significado. Há uma crescente indistinção entre estas duas esferas uma vez que muito daquilo que outrora se fazia na esfera pública foi absorvido para a esfera doméstica. O desejo de privacidade continua dependente das ligações económicas e culturais com a cidade e são precisamente estas que o asseguram.
A questão que os arquitetos devem colocar não é tanto sobre a natureza das relações humanas mas, centrando-se no seu domínio disciplinar, em encontrar formas de espacialização, por oposição a uma prática até aqui informada por uma visão da cidade e do subúrbio fortemente antropológica e sociológica.
O discursodo urbanismo reflete geralmente um campo problematizado de raciocínio urbano, mas poderíamos dizer que o oposto também é verdadeiro e que o urbanismo pode também refletir uma desproblematização de determinadas questões do urbano, levantando novas perguntas e, portanto, outras estratégias. Um dos problemas da reflexão sobre a lógica de produção suburbana, reside provavelmente no facto de não existir um discurso sobre o suburbano e este ser sempre montado por referência ao urbano, condicionando a nossa perceção e afetando os nossos julgamentos de valor por aquilo que nos é simultaneamente familiar e desconhecido. Outrora o suburbano aspirou a ser urbano. Agora ganhou um novo folego e é sobre a natureza do subúrbio que os arquitetos devem refletir, sobre o caráter distintivo da cultura suburbana e sua tradução física e espacial. A cultura emergente não é mais a cultura erudita das elites que vivem em mansardas novecentistas no centro da cidade, também eles nostálgicos de um tempo e cidade quaisquer que não viveram. A cultura emergente é eminentemente suburbana: na música, na literatura, na arte, na moda, no desporto. É a cultura do piercing e da tatuagem, do hip-hop e dos graffiti.
A arquitetura deve encontrar o seu lugar neste novo discurso: o subúrbio com referência ao subúrbio e não à cidade tradicional e suas dinâmicas. Aceitar a condição suburbana como distinta da urbana, com as suas qualidades próprias e que exige portanto as suas especificidades. Se continuarmos a pensar no subúrbio como um mal a eliminar arriscamo-nos a nunca nos envolvermos com as suas verdadeiras questões. A continuar a tentar mascarar de urbano aquilo que há muito já se assumiu suburbano. O que é que torna o subúrbio distinto? Porque é que se tornou tão central para a cultura contemporânea?
Bill Mitchell, Cities of Bites.
Há uma determinada indefinição espacial veiculada pela sobreposição de terrenos expectantes e infraestruturas que incomoda e angustia a nossa cultura arquitetónica vigente. A cultura do fragmento, da dispersão, pode sugerir o retorno a um tema que se tornou tabu – o do objeto arquitetónico.
Uma primeira abordagempoderia apontar na direção de construções que atuam como ilhas, a partir das quais se “navega” de uma para outra, como na imagem proposta por Bill Mitchell, no seu livro Cities of Bites. Mas não seria isso um retorno às espacialidades altamente especializadas da modernidade?
Curiosamente, o movimento moderno, que se opôs à objetificação da arquitetura, a uma arquitetura formal, produziu alguns dos projetos mais objetuais da história. Muitas críticas têm sido feitas a posteriori ao pensamento modernista, no entanto este tinha uma abordagem intelectual e de vanguarda, que teve como objetivo encontrar um novo equilíbrio entre o individual e o universal. Criticado pelas suas visões urbanas, elogiado pela sua arquitetura, o object-in-a-field corbusiano mantém-se na vanguarda como a imagem pós-moderna que os nossos subúrbios podem aspirar, votados à continuação e revisitação do projeto moderno.
8. The Sound ofThe Suburbs [21]
Haverá sempre cidade e subúrbio. Mas, cerca de 40 anos depois da publicação de Learning from Las Vegas, utilizando as palavras de Denise Scott Brown, as “nossas análises da paisagem suburbana” continuam a basear-se, em grande parte, nos métodos urbanos tradicionais, “comparando-as com a arquitetura histórica europeia, usando categorias definidas para o estudo do espaço tradicional europeu”, e esta “orientação para influências externas limita a nossa capacidade de usar a experiência local”[22], restringindo a criatividade do arquiteto. Resta-nos descobrir o suburbanismo como disciplina e o subúrbio como projeto. E imaginar uma liberdade renovada para a arquitetura através de novas técnicas e ferramentas de desenho que explorem a complexidade da colagem, da montagem, da sobreposição e proliferação de fragmentos; através de novas composições de limites indefinidos que incorporem a noção de espaço incompleto e tensões convergentes: no figure/no ground. Este desafio passará, porventura, também por um trabalho conjunto com uma disciplina que ainda não encontrou tradução no nosso país: urban landscape.
De acordo com Pérez-Gómez “a fragmentação e temporalização do espaço, iniciada pela montagem cinematográfica e pela colagem modernista, que abriu um reino infinito de possibilidades poéticas para a imaginação humana, continuam a aguardar a sua tradução em arquitetura”[23]. Há mais de dois séculos Piranesi representava a cidade de múltiplos fragmentos através de recomposições caóticas e da distorção e composição de perspetivas díspares, explorando as tensões resultantes da sobreposição de diferentes forças que operam na cidade. O espaço de conflito entre o projeto da cidade moderna — altamente organizada e ordenada — e as especulações de Piranesi, pode constituir-se como um campo de investigação privilegiado que permita descobrir novas relações espaciais e temporais, simultaneamente representando o presente, reconstruindo o passado e inventando um novo futuro, dando corpo a um projeto teórico para o subúrbio moderno. Ao som… dos Arcade Fire…
Arcade Fire, The Suburbs (2011).
[1]A palavra latina urbs evoluiu para civitas, ao que parece, quando Roma, a “última urbe”, perdeu o seu prestígio.
[2]MUMFORD, Lewis apud HARPER, Douglas — Online Etymology Dictionary, 2001-2012 [Consult. 27.01.2012]. Disponível em: http://www.etymonline.com
[3]MUMFORD, Lewis — The Culture of Cities. New York: Harvest Book Harcourt Brace & Company, 1996, p. 3. (tradução da autora)
[4]HARPER, Douglas — Online Etymology Dictionary, 2001-2012 [Consult. 27.01.2012]. Disponível em: http://www.etymonline.com.
[5]KOSTOF, Spiro — The City Shaped. Urban patterns and meanings through history. London: Thames & Hudson, 2001,p. 38.
[6]HOUAISS, Antônio et. Al. (dir.) — Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Lisboa: Temas e Debates, 2003.
[7]MUMFORD, Lewis — The City in History: Its Origins, Its Transformations, and Its Prospects. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1961, p. 447.(tradução da autora)
[8]Trad. livre. ENGELS, Friedrich — The Condition of the Working-Class in England in 1844: With Preface Written in 1892: Cambridge Library Collection – History. New York: Cambridge University Press, 2010,p. 23.
[9]EVANS, Robin — Rookeries and Model Dwellings. English Housing Reform and the Moralities of the Private Space— Translations from Drawing to Building and Other Essays. London: Architectural Association, 2003,p. 104.
[10]YOUNG, Iris — City Life and Difference: Metropolis: Center and Symbol of Our Times. New York: New York University Press, 1995,p. 264. (tradução da autora)
[11]ApudKOSTOF, Spiro — The City Shaped. Urban patterns and meanings through history. London: Thames & Hudson, 2001,p. 74.(tradução da autora)
[12]YOUNG, Iris — City Life and Difference: Metropolis: Center and Symbol of Our Times. New York: New York University Press, 1995,p.257. (tradução da autora)
[13]SCHOENAUER, Norbert — 6,000 Years oh Housing. 3rd ed. New York: W.W. Norton, 2000,p. 295. (tradução da autora)
[14]SENNETT, Richard — The Fall of the Public Man. New York / London: W.W. Norton & Company, 1974,p. 17. (tradução da autora)
[15]SENNETT, Richard — Flesh and Stone – The Body and the City in Western Civilization. London: Penguin Books, 1994,p. 21. (tradução da autora)
[16]AUGÉ, Marc — Non-places. Introduction to Anthropology of Supermodernity. London: Verso, 1995,p.103.
[17]Idem, ibidem p. 112.
[18]PEREC, Georges — Species of Spaces and Other Pieces. London: Penguin Books, 1974, pp. 26-27.
[19]GEUZE, Adriaan in BOERI, Stefano, et.al — West 8. Skira, 2000, pp.10-11.
[20]. MITCHEL, William — E-topia. Urban life, Jim-but not as we know it. Cambridge/Massachusetts: MIT Press, 2000,pp. 3-4.
[21]The Sound of the Suburbs, título do álbum de compilação de música rock-punk (1977-81).
[22]BROWN, Denise Scott — Invention and Tradition in the Making of the American Place (1986). In BROWN, Denise Scott — Having Words. reprinted. London: Architectural Association, 2010, Vol. 4, 5-21,pp. 5-6.(tradução da autora)
[23]PÉREZ-GÓMEZ, Alberto — Questions of representation: the poetic origin of architecture. In FRASCARI, Marco; HALE, Jonathan; STARKEY, Bradley — From Models to Drawings. London/New York: Routledge, 2007, p. 11.(tradução da autora)
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