Rita Mégre
Evolução das formas de habitação plurifamiliar na cidade de Lisboa – Nuno Teotónio Pereira e Irene Buarque (fotografia). Lisboa: CML|DMC|DPC, 2017.
Publicado pela Câmara Municipal de Lisboa, o livro Evolução das formas de habitação plurifamiliar na cidade de Lisboa, de Nuno Teotónio Pereira, é uma compilação do trabalho de investigação realizado pelo arquiteto entre 1978 e 1979 para a Fundação Calouste Gulbenkian e cujo espólio doou ao município em 2013.
A Câmara Municipal de Lisboa vai lançar no próximo dia 30 de janeiro o livro Evolução das formas de habitação plurifamiliar na cidade de Lisboa, de Nuno Teotónio, compilação do trabalho de investigação que o arquiteto realizou entre 1978 e 1979 para a Fundação Calouste Gulbenkian e cujo espólio doou ao município em 2013.
O Corpus do estudo está focado exclusivamente na habitação plurifamilliar, entendida como “o conjunto de unidades de alojamento familiar (ou fogos) que integram uma mesma unidade de construção (edifício ou prédio)”, e abarca um longo período da fase de expansão de Lisboa que começa na Idade Média e termina nos anos 30 do século XX, critério que o autor justifica por “serem os edifícios de todo este período que estão mais imediatamente ameaçados de destruição e corresponderem por outro lado à fase de maior expansão contínua da cidade”.
Para uma primeira aproximação tipológica, Nuno Teotónio Pereira fez um levantamento preliminar em larga escala no qual identificou mais de um milhar de edifícios e pequenos conjuntos de habitação dita “corrente”, distribuídos por 6 grandes períodos – edifícios anteriores a 1755; reconstrução e expansão após o Terramoto; novos bairros na 2ª metade de oitocentos; alojamento operário no arranque da industrialização; grande expansão na viragem do século; influência do Movimento Moderno.
Deste universo selecionou os exemplares a estudar e documentar com maior detalhe (ao nível do objeto e do seu enquadramento urbano) para integrarem o documento final entregue à Fundação Calouste Gulbenkian (3 volumes datilografados) e que agora vai ser editado pela CML. Nele identificam-se edifícios e conjuntos pouco conhecidos mas de grande interesse – pelas suas características, por serem exemplares expressivos de uma dada época ou por serem casos raros de tipologias quase desaparecidas na sua expressão original.
Com prefácio do arquiteto Ricardo Carvalho, a publicação inclui um texto introdutório de Irene Buarque, que acompanhou Nuno Teotónio Pereira no trabalho de campo e foi a autora do levantamento fotográfico. O Corpus do estudo é constituído por uma introdução (detalhando e enquadrando o objeto da pesquisa e a metodologia) e por 272 fichas de inventário de edifícios e conjuntos (com texto de caraterização, planta de localização e fotografia), divididas pelos 6 períodos (com respetivo mapa-síntese) e ordenadas em 23 tipologias – das “casas de andares de ressalto” à “fase modernista dos Anos 30”, cada uma com um texto de enquadramento e descrição das principais caraterísticas construtivas.
Nuno Teotónio Pereira pretendia que este seu trabalho de inventário pudesse dar “um contributo útil para a definição de zonas ou edifícios a proteger, sobretudo nos casos em que o processo de destruição está muito adiantado”, como já então se verificava em zonas de grande importância histórica como as Avenidas Novas. Alertando para “a falta de instrumentos legais de alcance prático”, pois a simples classificação não evita a degradação do edifício, defendia a necessidade de “medidas imediatas para evitar a destruição ou grave mutilação de alguns exemplares ou conjuntos urbanos de prédios de habitação pluri-familiar, que constituem a massa dominante da construção na cidade”.
Assim, tratando-se de um estudo com quase 40 anos, revisitaram-se e fotografaram-se todos os locais no sentido de identificar as transformações ocorridas no edificado e na envolvente. Como resultado, respeitando a estrutura e conteúdos do documento original, introduziu-se informação complementar, nomeadamente, uma fotografia comparativa e pormenorização de moradas.
As fichas de caraterização individual foram numeradas sequencialmente, encontrando-se os edifícios e conjuntos inventariados agora representados sobre cartografia planimétrica atual, à escala 1:2000, exceto os seis localizados fora do concelho de Lisboa.
Com esta edição a CML pretende divulgar um trabalho ainda hoje pioneiro e atual pelo tema tratado e sua abrangência temporal e geográfica, e assim contribuir para o conhecimento, valorização e salvaguarda de uma vasta arquitetura dita “menor” e muitas vezes anónima mas que constitui a principal imagem de Lisboa. Porque “nem só os edifícios ou bairros mas antigos devem ser salvaguardados da destruição ou da desfiguração: é necessário que testemunhos significativos da edificação das diferentes épocas possam ser conservados, tanto ao nível de conjuntos como ao nível do objeto individualizado”.
Evolução das formas de habitação plurifamiliar na cidade de Lisboa, de Nuno Teotónio Pereira e Irene Buarque (fotografia). Lisboa: CML|DMC|DPC, 2017.
Rita Mégre
Câmara Municipal de Lisboa / Direção Municipal de Cultura / Departamento de Património Cultural