Nuno Pires Soares
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Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa (CICS.Nova), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Portugal
Para citação: SOARES, Nuno Pires – Recensão crítica de Lisboa Esboço Geográfico. Separata do Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa, III Série-N 82-1976, composto e Impresso nas Oficinas Gráficas de Ramos, Afonso & Moita, Lda. Lisboa: 1976, 205 pp., ilustrado. Estudo Prévio 12. Lisboa: CEACT/UAL – Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa, 2017. ISSN: 2182-4339 [Disponível em: www.estudoprevio.net]. DOI: https://doi.org/10.26619/2182-4339/12.3
Recensão recebida a 15 de novembro de 2017 e aceite para publicação a 17 de dezembro de 2017.
Creative Commons, licença CC BY-4.0: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
A interpretação da cidade de Lisboa, pelo olhar e pelo saber geográfico expressos nesta obra, ainda hoje impressiona o leitor.
LISBOA Esboço Geográfico tem um plano muito bem imaginado e detalhado. Os dois primeiros capítulos, “Lisboa: uma cidade sem par no país” e “Lisboa e a sua expansão”, são de uma qualidade interpretativa e explicativa notáveis. Quem quer conhecer esta cidade tem de os ler, para perceber as mudanças que ocorreram ao longo do tempo, num contexto geográfico que, desde sempre, promoveu e, simultaneamente, condicionou a sua vida. O Capítulo, “A aglomeração de Lisboa”, onde se ultrapassa o limite administrativo da cidade e se entra nos “Subúrbios a norte da cidade” e no “Desenvolvimento da margem sul”, analisa uma entidade espacial e socioeconómica extremamente dinâmica, de caráter já marcadamente metropolitano, que uma boa parte da sociedade portuguesa, à época, ainda tinha dificuldade em entender.
Publicado em 1976 no Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa, a que se seguiu uma nova edição em 1977, a autora assinala logo na primeira Nota que, “o manuscrito… encontrava-se em revisão nos finais de 1973” e que a sua publicação foi
adiada devido aos “acontecimentos de Abril de 1974”. Uma boa parte da informação estatística é anterior à década de 70, “contudo, quando foi entendido chamar a atenção do leitor para qualquer transformação mais significativa após 25 de Abril, ela não deixou de ser feita”.
Esta pequena nota revela o cuidado, o rigor e a atenção, tanto para com o objeto em estudo, como para com o leitor.
Existe nesta obra uma preocupação de interpretar e explicar utilizando uma linguagem precisa, mas compreensível pelo maior número possível de leitores. Esta singularidade ao nível da comunicação é pouco comum na literatura académica. De destacar o recurso sistemático à informação estatística e à cartografia, tanto de base como temática, que fundamentam e ilustram toda a obra. O apêndice fotográfico (ESTAMPAS), de elevado caráter documental, é particularmente útil. Existe nesta obra um propósito explícito de revelar, explicar e ensinar, sempre por intermédio de uma narrativa elegante, clara, precisa, sintética e objetiva. É evidente que é uma obra de investigação realizada por quem sabe e quer ensinar. Este é um elemento comum a toda a vasta obra científica da autora.
Ao longo de “Lisboa Esboço Geográfico”, excelente escolha de título, cruzam-se saberes provenientes da História Urbana, da Geografia Física, da Geografia Humana, da Geografia Económica, da Demografia e do Planeamento Regional. Não será por mero acaso que Raquel Soeiro de Brito será, alguns anos passados, a fundadora do primeiro curso em Portugal onde se cruzam os saberes da Geografia e do Planeamento Regional.
É uma obra de referência da Geografia da cidade de Lisboa. A sua leitura mantém-se indispensável para todos aqueles que querem conhecer esta cidade e a sua área metropolitana, até meados da década de 70 do século passado. Curiosamente, até hoje, ninguém ousou continuar o que a professora Raquel Soeiro de Brito brilhantemente iniciou. A cidade merecia um novo capítulo sobre as mudanças e as imutabilidades dos últimos 40 anos.
Enquanto esperamos por “Lisboa Esboço Geográfico II”, podemos voltar a ler quem nos ensina.
Nuno Pires Soares
Foi o primeiro livro que adquiri, por vontade própria, como aluno de Geografia e Planeamento Regional.