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Filipa Ramalhete

A internacionalização de lisboa: Paradiplomacia de uma cidade, coordenado por Luís Moita

Creative Commons, licença CC BY-4.0: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

O livro A internacionalização de Lisboa: paradiplomacia de uma cidade, agora publicado, resulta de um projeto de investigação desenvolvido pelo OBSERVARE, intitulado Cidades e Regiões: a paradiplomacia em Portugal. Apresenta os intensos movimentos de internacionalização, que possuem uma expressão territorial e social expressiva (no comércio, no turismo, no emprego), como a face visível de mudanças e estratégias culturais, económicas e financeiras mais profundas, que se desencadearam, nas últimas décadas, deliberada ou espontaneamente, nas cidades contemporâneas.

A obra parte de três pressupostos: em primeiro lugar, que as cidades são, elas próprias, dotadas de uma agencialidade que as coloca na posição de atores privilegiados no contexto internacional, onde se assiste, em simultâneo, à crise do Estado-Nação. Em segundo lugar, assume a importância da paradiplomacia – entendida como “todas as práticas diplomáticas de entidades subestatais (…) conduzidas por governos subnacionais com o objetivo de promover os seus próprios interesses em distintas áreas temáticas (…) com interlocutores estrangeiros públicos ou privados” (Santos: 31) – como um meio para a estratégia de internacionalização das cidades, numa lógica de ação do campo das Relações Internacionais, mas também como categoria de análise das lógicas urbanas contemporâneas. E, por último, dado que o objeto da obra é a cidade de Lisboa, esta é analisada procurando desmontar a clássica dualidade de cidade “demasiado grande no país”/“modesta quanto à integração em redes globais e europeias” (Moita: 10-11), assumindo que existe uma dinâmica intensa de internacionalização, que é importante compreender, para poder responder à pergunta crucial – a inegável internacionalização a que assistimos é fruto apenas de dinâmicas externas ou houve um papel do Estado e de uma paradiplomacia bem articulada que para ela concorreram?

Destas interrogações surge um conjunto de textos que apresentam uma perspetiva conceptual (Sofia José Santos) e uma abordagem diacrónica (Fernando Amorim e Luís Moita), desenvolvendo, em seguida, temáticas especificas da internacionalização da cidade de Lisboa: o turismo, a sustentabilidade ambiental (Brígida Brito), a cultura (Célia Quintas, Brígida Brito e Helena Curto), o cosmopolitismo (Maria João Mortágua e Madalena Mira) e a competitividade tecnológica (Carlos Morais).

Ao desmistificar alguns lugares comuns, a obra permite compreender em que medida a internacionalização de Lisboa, para além das suas raízes históricas já conhecidas, resulta de um conjunto de ações, situáveis no tempo e no espaço, levadas a cabo pelo Estado mas também por uma paradiplomacia multifacetada e multi escalar.

O conjunto de textos apresentado no livro não pretende ser exaustivo, e é claramente uma linha de investigação em aberto – que pode ser complementada e aprofundada por estudos de outras áreas, como a geografia, a antropologia e a arquitetura – mas constitui uma abordagem sistematizada ao tema e permite uma melhor compreensão das tendências e processos que se desenharam e construíram nas últimas décadas e se tornam, hoje, visíveis na vida quotidiana da cidade.

 

Moita, Luís (coord.) et al – A internacionalização de Lisboa: paradiplomacia de uma cidade. Lisboa: Universidade Autónoma de Lisboa e Observare, 2017.