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Victor Beiramar Diniz

vbd@netcabo.pt

Arquiteto paisagista e Doutorando no Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa (DA/UAL), Portugal. CEACT/UAL – Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal

 

Para citação:

BEIRAMAR DINIZ, Victor – MAIS MAR a praia-piscina flutuante de Eduardo Anahory. Estudo Prévio 25. Lisboa: CEACT/UAL – Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa, dezembro 2024, p. 135-161. ISSN: 2182-4339 [Disponível em: www.estudoprevio.net]. DOI: https://doi.org/10.26619/2182-4339/25.5

Artigo recebido a 31 de julho de 2024 e aceite para publicação a 11 de outubro de 2024.
Creative Commons, licença CC BY-4.0: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

MAIS MAR a praia-piscina-flutuante de Eduardo Anahory

 

Resumo

Eduardo Anahory (1917-1985), designer de arquitectura (BORGES, 2010), construiu um percurso cosmopolita, como poucos arquitetos da sua geração, circulando entre a Europa e a América do Sul, e obtendo ampla divulgação internacional da sua obra que, não obstante, está hoje maioritariamente ausente da história e crítica da arquitetura.

Através da investigação do processo de conceção da praia-piscina-flutuante, que projetou, no final da década de 1960, para a praia do Tamariz, Estoril, e ali instalou nos verões de 1970, 71 e 72, o artigo procura resgatar esta realização singular da sua atual relativa obscuridade. Apresenta, ainda, como chaves possíveis de análise e leitura a sua inscrição como artefacto numa paisagem, e a construção da sua condição de artefacto-evento.

 

Palavras-chave: Eduardo Anahory, Seapool, praia-piscina-flutuante, Estoril.

 

Figura 1A praia-piscina-flutuante, ao largo da praia do Tamariz, Estoril, c.1972. (Fonte: Fotold, https://www.fotold.com).

1. INTRODUÇÃO

Figura 2Eduardo Anahory, na apresentação do projeto da praia-piscina-flutuante, 1968 (Fonte: Diário de Notícias. Ano 104 n.º 36772, 20/07/1968, p. 7).

 

Eduardo Fortunato Jaime Anahory nasceu em Lisboa em 1917, no seio de uma família judaica, tendo falecido, na mesma cidade, em 1985, aos 67 anos de idade. Colabora, desde cedo, como ilustrador autodidata nas publicações de que o seu pai era editor, iniciando mais tarde, em 1935, aos 18 anos, a sua educação formal em belas-artes no Curso Especial de Arquitetura da Escola de Belas-Artes de Lisboa. Muda, dois anos depois, a sua inscrição para a Escola de Belas-Artes do Porto, que abandona em 1938 em detrimento da aprendizagem pela prática, deixando incompleta a licenciatura e impossibilitando, assim, a assinatura de projetos enquanto arquiteto, decisão que marcará irrevogavelmente a sua carreira.

As suas práticas profissional e artística, indissociáveis entre si, construíram um espectro de atuação sem limites definíveis entre as suas várias expressões — escultura, pintura, design gráfico, publicidade, design de equipamento, mobiliário, cenografia, estruturas expositivas, arquitetura de interiores, e arquitetura — sendo igualmente marcadas por um estado de constante movimento, espécie de wanderlust [1], de Anahory: Nova Iorque (1939) para a World’s Fair, Rio (1940-45) [2], Paris (1945-48), Lisboa (1948-52), de volta ao Rio e a São Paulo (1952-1954), novamente Lisboa (1955-74) com visitas frequentes a Paris e uma visita de estudo aos países escandinavos (1963), e, finalmente, Angola e Brasil (1970-1984) [3].

Modernos, mais por adaptação dos seus princípios ao contexto, do que por doutrina (BORGES, 2010: 186), os “objectos-arquitectónicos” de Anahory revelam, quer quando em contexto urbano, quer quando isolados e confrontados com as paisagens em que se inscreveram, uma sofisticação formal, resultado de uma contenção auto imposta — “3 cores, 3 materiais“ (BORGES, 2010) — e de uma particular atenção à pormenorização construtiva, mesmo, ou sobretudo, quando recorrem à pré-fabricação ou à utilização de sistemas construtivos e funcionais ready-made, sejam tecnológicos ou artesanais, que exploram e adaptam. Cosmopolita, como poucos dos seus contemporâneos em Portugal, Anahory construiu espaços singulares, onde é evidente a preocupação, que se pode classificar quase hedonista, com o conforto e o prazer da sua fruição.

Tal é o caso, muito particular, mesmo no contexto de um corpo de trabalho tão cheio de singularidades, do projeto, e da materialização, da praia-piscina-flutuante, ou Seapool, cuja existência fugaz (meses de verão, de 1970, 1971 e 1972) ao largo da praia do Tamariz, no Estoril, prometia “mais sol, mais iodo, mais mar — com todo o conforto de uma piscina” [4].

 

 

2. MAIS SOL

2.1 A constelação Anahory

A wanderlust de Anahory, a par da sua personalidade extrovertida e sedutora [5], permitiu o estabelecimento, à sua volta, de uma verdadeira constelação de personagens [6], numa teia que cruzava geografias e esbatia os limites entre os campos da amizade e da prática profissional, e que em grande medida formaram o seu gosto e informaram a sua obra.

O meio lisboeta em que se movimentava, no final da década de 1930, a par da sua inclusão como ajudante na equipa de “pintores-decoradores” de António Ferro no Secretariado Nacional de Propaganda na preparação da representação nacional à World’s Fair de Nova Iorque e São Francisco, colocam Anahory na esfera de artistas como Carlos Botelho, Fred Kradolfer, Bernardo Marques, Emmerico Nunes, José Rocha, ou Thomaz de Melo (Thom). Maria Helena Vieira da Silva e Árpád Szenes, em trânsito em Lisboa no final da década, seguem, tal como Anahory, para o Rio de Janeiro em 1940, voltando os três a coincidir em Paris nos primeiros anos do pós-guerra, e mais tarde, de novo em Lisboa, cimentando uma amizade que durou até à morte de Árpád e Anahory em 1985.

Na estadia brasileira cria laços, que se manterão, com Jorge Amado, Vinícius de Morais, Dorival Caymmi, Lúcio Rangel, Rubem Braga, e também com os arquitetos Óscar Niemeyer, Eduardo Reidy, Jorge Moreira, e os irmãos Marcelo, Milton e Maurício Roberto, com quem colabora. Para o encenador Louis Jouvet, exilado da guerra na América do Sul, cria cenografias para peças que serão, no pós-guerra, repostas em Paris, onde realiza também cenários para a companhia portuguesa de bailado Verde Gaio, consolidando o reconhecimento do seu trabalho de cenografia e figurinos.

Uma breve passagem por Lisboa, no final da década de 1940, acresce José-Augusto França à lista das suas relações. De volta ao Rio e a São Paulo, em 1952, a convite de Niemeyer, cruza-se com, entre outros, Cândido Portinari, Roberto Burle-Marx e Di Cavalcanti, colaborando com Sérgio Bernardes num dos pavilhões para as comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo.

Regressado a Lisboa, onde Menez (nome artístico de Maria Inês Carmona Ribeiro da Fonseca) se torna, em 1958, companheira de vida e de trabalho ao longo dos 8 anos que dura a sua relação, Anahory inicia o período mais profícuo da sua carreira. Participando em projetos de (outros) arquitetos, ou com eles estabelecendo acordos/parcerias quando precisa da assinatura de um diplomado (apesar de desenvolver autónoma, capaz e integralmente, os projetos), a lista de colaborações, para além de permitir traçar um mapa das afinidades eletivas de Anahory, permite, sobretudo, construir um panorama daquilo a que poderíamos apelidar a sua filiação arquitetónica, matizada pela sua prévia experiência brasileira: Pedro Cid, Alberto José Pessoa, Ruy Jervis D’Athouguia, Daciano Costa (com quem se desentenderia na sequência do projeto da Fundação Gulbenkian), Raul Chorão Ramalho, Filipe Nobre de Figueiredo, José Segurado, Sommer Ribeiro, Alzina de Menezes, Erich Corsepius, e Raul Tojal.

O universo de Anahory configuraria assim um encontro, transatlântico, entre perspetivas modernas que partem de Brasil Builds para chegar aos Verdes Anos.

A este período de intensa atividade corresponde, como se verá adiante, uma igualmente intensa presença do seu trabalho na imprensa especializada, sobretudo internacional, na qual também colabora como correspondente, o que acrescenta a esta rede de relações uma nova dimensão. É conhecida a sua amizade com Gio Ponti, director da revista italiana Domus, e como correspondente da francesa LArchitecture dAujourdHui conheceria certamente André Bloc, seu fundador. Sabe-se, ainda, que Sir Paul Reilly, presidente do britânico Council of Industrial Design terá almoçado com Anahory na Casa Aiola [7], a sua casa de férias em Galapos, Serra da Arrábida, tendo contribuído para evitar a primeira tentativa da sua demolição, na sequência da dúbia legalidade da sua edificação, logo no início dos anos de 1960.

Lisboa, Nova Iorque, Rio, Paris, São Paulo, e Milão, foram, então, os nódulos desta singular constelação de relações que Eduardo Anahory soube tecer, alimentar e manter, expressão de um espírito verdadeiramente cosmopolita, e no centro da qual brilhou.

 

2.2 Eclipse

 A obra arquitetónica de Eduardo Anahory, com a notável exceção da sua casa de férias em Galapos, a Casa Aiola, e, em menor escala, do Hotel do Porto Santo, está, hoje, conspicuamente ausente da reflexão crítica sobre a produção arquitetónica portuguesa das décadas de 1950 e 1960, décadas em que Anahory produziu o cerne da sua obra de arquitetura. Tal omissão, que se pode considerar parcialmente espelhada nas circunstâncias que Graça Correia (CORREIA, 2018) detalha para o desaparecimento crítico da obra do seu contemporâneo — e amigo — Ruy Jervis D’Athouguia [8], a par da transiência característica de alguns dos programas e das formas construtivas que Anahory abordou na sua prática, e da já referida necessidade de contar com a assinatura de arquitetos amigos para licenciar os seus projetos (gerando atribuições equívocas) [9], contrasta com a exposição internacional que a sua obra obteve naquelas mesmas décadas.

“De facto, as suas obras são frequentemente publicadas desde finais da década de 50 até meados da de 60. Nomeadamente, mediante publicação em praticamente um número por ano na revista LArchitecture dAujourdHui, no período compreendido entre 1958-65; com excepção dos anos 1960 e 1964 em que o seu trabalho não foi publicado em nenhuma edição, tendo no entanto, sido editado duas vezes em 1962 e 63. Na revista Domus teve presença num número por ano entre 1960 e 66, com excepção do ano de 1965. No ano de 1962, foi ainda publicado na revista Alemã Moebel Interior Design. […] No ano seguinte, em 1963, os seus trabalhos foram, como referido, editados em Itália na revista Domus, em França na LArchitecture dAujourdHui, também na Alemanha, numa revista de nome DBZ – Deutsche Bauzeitschrift, e ainda em Inglaterra, na Architectural Review, na Suíça, na Bauen+Wohnen e no Brasil na Arquitectura. Em 1965, como referimos, o seu trabalho mereceu a atenção em França da LArchitecture dAujourdHui, onde também teve o seu trabalho publicado na UIA (Revue de L’Union Internationale des Architectes), e apesar de neste ano não ter sido publicado na Domus, foi-o na Italiana Lotus International, repetindo-se a sua edição na Alemanha, na revista DBZ e na Suíça, na Bauen+Wohnen. Para além das revistas referidas, a casa Aiola terá sido publicada na revista Alemã Neue Wohnhauser, na Francesa Connaissance des Arts, na Suíça 33Architekten- Einnfamilienhauser, e incluso chegou aos EUA através da House Beautiful, e no livro Vacation Houses: an International Survey de Karl Kasper (Nova Iorque, Praeger) de 1967” (SILVA; FURTADO, 2012: 3).

Num campo definido por esse vazio de crítica e de investigação, “Eduardo Anahory, percurso de um designer de arquitectura”, dissertação da autoria de José Borges para obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura (2010), constitui-se, à data, como o principal, e quase único [10], “contributo para o estudo da produção arquitectónica, artística caleidoscópica deste autor tão singular, contextualizando-a no seu percurso profissional anti-convencional” (BORGES, 2010: 15), sendo a fonte principal para os restantes, poucos, textos académicos (e outros) que se debruçaram, nos seus contextos específicos, sobre o objeto da presente investigação: a Seapool, praia-piscina-flutuante do Tamariz. José Borges descreve sucintamente o projeto e as condições da sua materialização (idem: 143-145) localizando-o no quadro da produção de Eduardo Anahory, enquanto que Susana Lobo, recorrendo também ao artigo de Anahory na revista Binário de Agosto de 1968,  permite situá-lo no contexto mais vasto dos planos de turismo balnear português, e no da concessão de jogo do Estoril em particular (LOBO, 2012: 1272-1277), concentrando-se a análise, superficial, de Rafael Gonçalves no contexto das Piscinas de Mar das estâncias de vilegiatura balnear em Portugal (GONÇALVES, 2022: 99-100).

A inexistência (ou o atual desconhecimento) de um arquivo, ou de um espólio organizado, da produção arquitetónica de Anahory, dificulta, se não mesmo impossibilita, o acesso a fontes primárias — gráficas e/ou textuais — da sua obra, em geral, e do projeto da praia-piscina-flutuante, em particular. A pesquisa desenvolvida concentrou-se, então, na tentativa de identificar, tão exaustivamente quanto possível, fontes ainda não exploradas, nomeadamente na imprensa diária, tendo esta permitido colmatar lacunas da, até aqui incipiente, cronologia do projeto, primeiro, da sua materialização, depois, e, por fim, da sua reposição. Foram, ainda, contactados o Instituto Nacional da Propriedade Industrial, cujas indicações levaram à localização de patentes internacionais, o Arquivo RTP, que localizou dois filmes, respeitantes à visita de imprensa e à inauguração da piscina, filmagens que passou a disponibilizar na sua página da internet, e a Direção Geral do Território, que disponibilizou uma imagem em baixa resolução do voo de 16 de setembro de 1970, o único efetuado nos 3 verões em que a piscina foi instalada (e cuja ausência naquela data demonstra a reduzida duração do seu período de utilização). Foi igualmente contactado o Museu do Casino Estoril, que tem à sua guarda o arquivo da Sociedade Estoril-Sol, entidade promotora da praia-piscina-flutuante, mas que não demonstrou interesse, ou disponibilidade, em apoiar a investigação. De entre as fontes documentais assim identificadas, destacam-se, porque até agora inéditos e pela relevância da informação que direta e indiretamente revelam, os registos de patentes — em França, na Austrália, e no Brasil — e os filmes do Arquivo da Rádio Televisão Portuguesa. Foi, ainda, possível acrescer à lista das publicações internacionais, atrás elencadas (BORGES, 2010; SILVA; FURTADO, 2012), o número 469 da revista Domus (dezembro de 1968) [11].

Para informar o presente artigo, foram, ainda, conduzidas duas entrevistas: a Graça Anahory Vasconcelos, sobrinha e colaboradora pontual de Eduardo Anahory, e a Ana Tostões, arquiteta, orientadora da dissertação de mestrado de José Borges já citada, e, entre outras, diretora do curso de Doutoramento em Arquitetura do Instituto Superior Técnico. Ambas frequentaram a Seapool.

 

 

3. MAIS IODO

3.1 Nostalgia do mar: uma ideia para múltiplos lugares

 

“At school one day, a student designed a floating swimming pool. Nobody remembered who it was. The idea had been in the air. Others were designing flying cities, spherical theaters, whole artificial planets. Someone had to invent the floating swimming pool. The floating swimming pool — an enclave of purity in contaminated surroundings — seemed a first step, modest yet radical, in a gradual program of improving the world through architecture. To prove the strength of the idea, the architecture students decided to build a prototype in their spare time. […] The prototype became the most popular structure in the history of Modern Architecture” (KOOLHAAS, 1994: 307).

Figura 3A praia-piscina-flutuante na revista Domus, 1966 (Fonte: Domus n.º 443. Milão, outubro 1966, p. 32).

O projeto da praia-piscina-flutuante, ou mais corretamente, a ideia de uma praia-piscina-flutuante, estreou-se nas páginas 32 e 33 do nº 443 da revista italiana Domus, em Outubro de 1966, poucos meses depois de Eduardo Anahory, com os engenheiros Duarte Belo e António Bustorff Silva, ter registado, a partir de Lisboa, uma patente que seria aceite e publicada em França, no Bulletin officiel de la Propriété industrielle, apenas em Maio de 1968 [12].

Ao contrário da difusa génese da imaginária piscina flutuante dos construtivistas russos de Koolhaas, Anahory descreve com precisão a origem da sua ideia: nascera, uns anos antes (1965), durante o processo de projeto de um hotel no Algarve cujo terreno terminava numas arribas, 30 metros acima do mar [13]:

“Em face disto imaginámos construir uma grande piscina de água salgada, o que parecia ser uma solução. Porém, realizada a maquete do conjunto, verificámos que essa piscina parecia um pequeno tanque perdido nas alturas: perdia-se o contacto directo com a natureza, faltava a verdadeira presença do mar, para onde os banhistas olhariam de longe com a compreensível nostalgia… Foi então que nasceu a ideia de fazer essa piscina dentro do oceano e no ambiente natural” (ANAHORY, 1968: 79).

O artigo da Domus, ilustrado com uma expressiva fotografia de maquete e um corte esquemático, desenhado à mão levantada, descreve, então, esta “praia flutuante” como uma “enorme jangada habitada — uma praia ancorada — com cabines, chuveiros, snack-bar, sanitários, toldos, piscina (para os inexperientes e as crianças), […] uma espécie de ‘estação’, de base avançada, no mar” (tradução do autor).

Figura 4Desenhos da patente francesa (1966). Reproduzido de: Brevet d’Invention: Plage Artificielle Flottante, Ministère de L’Industrie, Service de Propriété Industrielle, 1968 (Fonte: European Patent Office: https://worldwide.espacenet.com).

Segundo o Brevet d’Invention,

“a praia flutuante artificial de acordo com a invenção compreende uma plataforma 1 [numeração referente à legenda dos desenhos que acompanham a patente], preferencialmente de formato geralmente retangular, feita de qualquer material adequado, e capaz de ser feita de elementos removíveis para permitir o transporte ou armazenamento. A plataforma 1 é suportada por flutuadores 2, constituídos por caixas capazes de serem montadas de forma amovível sob a face inferior da referida plataforma. A plataforma 1 compreende, substancialmente no seu centro, uma abertura na qual está alojado um tanque 3, cuja parte do fundo 4 é inclinada e cujas paredes laterais podem ser constituídas por painéis perfurados 6, podendo o fundo também ser perfurado com orifícios para permitir a entrada de água no referido tanque, sendo o nível de água no mesmo constante e, graças às referidas perfurações, a referida água pode ser renovada automaticamente sem ser necessário utilizar meios de enchimento ou esvaziamento do tanque. A zona 7 da plataforma 1 constitui um local onde se pode planear uma esplanada, um bar, um restaurante, um local de descanso, etc.” (SILVA; BELO; ANAHORY, 1968 [1966] (tradução do autor).

 

Pensada para ser sazonal (mas não efémera), móvel, transportável (em terra e no mar) e armazenável, e para “prestar serviço não apenas onde não existem praias mas também onde estas são pouco acessíveis […] ou possuem fauna marítima de algum modo pouco tranquilizadora […] e, ainda, quando se trata de boas praias, mas que estão habitualmente apinhadas de gente, não podendo oferecer nem espaço nem sossego” (ANAHORY, 1968), a invenção não se limitava a poder ser utilizada em zonas costeiras, mas também em todas as regiões banhadas por planos de água — rios, lagos, lagoas, etc. — que viabilizam a utilização desta praia artificial flutuante, que “tem, portanto, uma finalidade útil permitindo acrescentar, à paisagem de determinadas regiões, um complemento que possibilita o seu desenvolvimento turístico” (SILVA; BELO; ANAHORY, 1968) (tradução do autor). Tal era, segundo os inventores, o caso de Portugal, com uma extensa costa banhada pelo Atlântico, mas onde “apenas algumas praias de areia que permitem a criação de instalações balneares” (tradução do autor).

Uma segunda patente, assinada agora apenas por Eduardo Anahory, é submetida à autoridade australiana da propriedade intelectual em setembro de 1968, sendo publicada em abril de 1970 [14]. Tenha sido motivada pela eventual publicação da praia-piscina-flutuante naquela geografia, e/ou pela partida para aquele continente de um seu colaborador (BORGES, 2010: 116), a verdade é que, ainda que mantendo os desenhos da patente original que a ilustram, a descrição da invenção, para além de uma adaptação à cultura do lugar (passando a fazer referência, por exemplo, à prática do surf e à presença de tubarões na costa australiana), esta patente tem maior detalhe e desenvolvimentos na sua especificação técnica, refletindo certamente a evolução da ideia já para o domínio do projeto [15]. A descrição admite agora outras configurações que não a estritamente retangular, são mais claras as referências à modularidade das peças constitutivas e à sua inter-ajustabilidade, e propõe outras opções para a delimitação do tanque aberto no seu centro: aos painéis perfurados acresce a possibilidade de utilização de uma rede metálica, em alternativa, ou em utilização mista.

Susana Lobo considera que “a proposta de Anahory não é mais do que uma reinterpretação, actualizada e usando da mais recente tecnologia associada à construção, das antigas Barcas de Banhos que ancoravam no Rio Tejo” (LOBO, 2012: 1273). No entanto, e embora as possamos também incluir na mesma filiação higienista (e lúdica) de finais do século XVIII e início do século XIX, cremos que as referência de Anahory estavam simultaneamente mais perto, no tempo, mas mais longe, na geografia: os floating baths nova iorquinos, e a parisiense Piscine Deligny, hipótese que a afirmação de Anahory, no artigo que publica em 1968 na revista Binário (ANAHORY, 1968: 79) de que foram realizadas “consultas particulares” nos Estados Unidos e em França durante o processo de projeto, torna plausível.

Figura 5 – A Piscine Deligny, 1968 (Fonte:  Diário de Notícias. Ano 104 nº 36726, 02/07/1968, p. 1).

 

 

Com efeito, é provável que Anahory ainda se tenha cruzado em Nova Iorque, na sua visita de 1939, com os últimos floating baths que atracavam nos meses de verão nos pontões que habitavam toda frente ribeirinha de Manhattan (BUTTENWIESER, 2021: 52-53), e que nas suas temporadas parisienses se tenha cruzado (se não mesmo frequentado) a vetusta, mundana, e flutuante Piscine Deligny, onde, nas décadas de 1960 e 70, o tout-Paris se bronzeava e praticava o monokini (MESNARDS, 2023), e que habitou as margens do Sena de 1785 até se afundar em 1993 [16].

 

Uma invariante, no entanto, mantém-se: a ideia, novel, de Eduardo Anahory é a de uma praia. Uma praia flutuante, no centro da qual se abre espaço para uma piscina. Uma piscina que resulta da circunscrição de um volume de água dentro do mar ele próprio.

Parafraseando Koolhaas, uma ideia modesta e, no entanto, radical.

 

3.1 Ao largo: uma encenação cosmopolita e elegante

 

Após a sua publicação, em Itália, na revista Domus, a praia-piscina-flutuante faz a sua primeira aparição nacional nas páginas do Diário de Lisboa, em 16 de julho de 1967. Ilustrada com uma versão mais detalhada da perspetiva que acompanhava ambas as patentes atrás referidas, esta notícia é, no ano seguinte, creditada por Anahory com a responsabilidade de, junto com a publicação na Domus, ter despertado o interesse da Sociedade Estoril-Sol em patrocinar a realização de um protótipo, em troca da prioridade da sua utilização (ANAHORY, 1968: 79).

Figura 6 – Perspetiva da praia-piscina-flutuante, 1967 (Fonte: Diário de Lisboa. Ano 47º n.º 16011, 16/07/1967, p. 13).

 

Proprietária da concessão de jogo do Estoril desde 1958, a Sociedade Estoril-Sol herdara, para além do velho Casino Estoril, as novas piscinas do Tamariz, com projeto de Manuel Tainha, inauguradas em 1956. Dando cumprimento às obrigações da concessão, inaugura o Hotel Estoril-Sol em 1965, com projeto de Raul Tojal, o renovado e ampliado Casino Estoril em 1968, com projeto de Filipe Nobre de Figueiredo e José Segurado, e, no verão do mesmo ano, o novo Estabelecimento dos Banhos de Mar da praia do Tamariz, com projeto de José Pinto dos Santos. Em contrapartida, as obras para o troço Monte Estoril – Cascais do paredão, da responsabilidade do Estado, troço final da construção que se tinha iniciado em 1950, arrastavam-se, e apenas terminariam em 1970.

Considerando as escolhas que a Sociedade Estoril-Sol fizera quanto à autoria dos projetos para os seus edifícios, é seguro dizer-se que o interesse pelo projeto de Eduardo Anahory, já fora de qualquer obrigação imposta pela concessão, mas dentro do espírito da modernização dos seus equipamentos, se afigura natural naquele contexto.

Figura 7 – Eduardo Anahory e Ticiano Violante na apresentação à imprensa do projeto da praia-piscina-flutuante, 1968 (Fonte: publicação não identificada. Imagem cedida por Luiza Carrelhas Albuquerque).

 

 

Garantido o apoio para a construção do protótipo, a praia-piscina-flutuante, é apresentada à imprensa diária nacional a 17 de julho de 1968, a convite de Eduardo Anahory, à volta de uma maquete executada por Ticiano Violante [17]. A notícia (que se refere a Anahory como artista), publicada no Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital, Diário de Notícias, e num vespertino não identificado [18], descreve consistentemente o projeto (em quase todos os diários) sensivelmente nos mesmos termos em que é descrito na sua primeira patente, o que leva a supor que Anahory e/ou a Sociedade Estoril-Sol terão fornecido um press release aos jornalistas. Nova é a informação que o protótipo terá uma dimensão exterior de 30×20 metros, e 20×10 metros a piscina nele recortada, totalizando 200m2 de superfície aquosa e 400m2 de deck, com uma capacidade para albergar confortavelmente 100 pessoas, e que se estima que venha a ser instalado em frente ao Hotel Estoril-Sol, com um custo de seiscentos a oitocentos contos [19]. Refere, ainda, que o projeto será desenvolvido em colaboração com o gabinete de Alzina de Menezes e Erich Corsepius.

Em agosto do mesmo ano, Anahory publica, na página 79 do nº 119 da revista Binário: Arquitectura, Construção, Equipamento, o artigo praia-piscina-flutuante (ANAHORY, 1968), naquela que parece ser a única aparição contemporânea deste projeto na imprensa especializada de arquitetura em Portugal. Ilustrado apenas com um esquisso de um corte e de uma perspetiva (apesar da existência da atrás referida maquete), dada a informação que contém, o artigo poderá ser o mesmo texto, ou uma versão daquele, que especulamos tenha sido fornecido aos jornalistas no mês anterior.

Uma outra versão, abreviada e trilingue (português, francês, inglês), do mesmo texto é publicada, também em Agosto, nas páginas 20 e 21 do nº 268-269 na revista de turismo Lisbon Courier, com uma fotografia da maquete produzida por Violante, e com um novo esquisso que representa um corte da estrutura, com uma particularidade: a referência (primeira e única) à utilização de um ‘fundo plástico’ associado à rede de nylon que constrói os limites verticais da piscina, o que leva a pensar que o projeto tinha, ainda, opções em aberto.

Figura 8 – O protótipo e a maquete da Seapool na Domus, 1968 (Fonte: Domus n.º 469. Milão, dezembro 1968, p. 32).

 

 

No entanto, o projeto, e a produção do protótipo, terão avançado rapidamente, uma vez que, para além do progresso atrás identificado na descrição da patente australiana, uma segunda publicação na revista Domus, na página 32 do nº 469 de Dezembro de 1968, é significativamente ilustrada, para além da mesma fotografia da maquete publicada na Lisbon Courier, com uma fotografia do protótipo em flutuação num plano de água, e um conjunto de desenhos técnicos esquemáticos. Naquela que é a primeira referência ao nome Seapool, o texto diz-nos que esta é “composta de elementos em fibra de vidro (5×2,5m; altura 60cm) [e] pode facilmente desmontar-se e armazenar num porto de inverno” (tradução do autor). A fotografia do protótipo permite ainda perceber, pela contagem dos elementos constituintes, e conhecidas agora as dimensões de cada um, que este foi realizado já com a dimensão anunciada de 30×20 metros, e ainda que inclui já suportes para uma guarda no seu perímetro.

Após um hiato de quase 2 anos, sobre cuja razão apenas podemos especular, a Seapool é finalmente inaugurada no início de julho de 1970. A imprensa é convidada pela Sociedade Estoril-Sol para uma visita prévia, que tem lugar às 10h30 de 2 de julho, a que se segue uma inauguração oficial às 18h00 do dia 3, com o secretário de Estado da Informação e Turismo, César Moreira Baptista, abrindo a piscina ao público no dia seguinte.

Figura 9 – Inauguração da Seapool, 1970 (Fonte: Diário Popular. Ano XXVIII nº 9950, 02/07/1970, p. 23).

 

 

O texto da reportagem nos jornais A Capital, Diário de Lisboa, Diário Popular, O Século, República, Diário de Notícias, Jornal da Costa do Sol, e The Anglo-Portuguese News, mais uma vez terá seguido um press release fornecido. Informa-nos, então, que representantes da imprensa visitaram a primeira praia-piscina-flutuante, do modelo “arquitectado e patenteado” por Eduardo Anahory, que “baptizou” esta sua invenção, instalada a cerca de 300 metros ao largo da praia do Tamariz, com o nome Seapool.

 

“A ‘jangada’ é constituída por elementos modulados cuja montagem, desmontagem e armazenagem é de grande facilidade. Cada um dos módulos tem um comprimento de 5 metros e uma largura de 2,5 metros, pesando aproximadamente 400 quilos. O tamanho da ‘Seapool’ dependerá, portanto, do número de módulos que a formam. A que está instalada na praia do Tamariz tem as dimensões exteriores de 30 por 20 metros […]. Em torno da piscina há um amplo ‘deck’, com uma área de 400 metros quadrados, o que permite instalar confortavelmente 150 pessoas, além de um ‘snack-bar’ e instalações sanitárias. Ligados entre si, os módulos da ‘Seapool’ são constituídos por flutuadores de ‘polyester’ reforçado com tela de vidro. A parte superior de cada um, que forma o ‘deck’, é de contraplacado de Hambala [sic], à prova de água com aplicação de granitado antiderrapante. A estabilidade da piscina é garantida por dois flutuadores em todo o seu comprimento (sistema ‘catamaran’). Acontece, ainda, que cada elemento da piscina, mesmo posto a flutuar isoladamente, pode suportar dez pessoas no mesmo bordo sem perigo de adornar, podendo igualmente suportar uma carga de dois mil quilos sem deixar de ficar à tona de água. […] Para concretizar a sua ideia, o arquitecto Eduardo Anahory obteve o patrocínio da Sociedade Estoril-Sol, em cujos estaleiros de Alcoitão foi construído este protótipo. […] O trajecto entre o areal do Tamariz e a piscina-flutuante faz-se num barco de gasolina, da Estoril-Sol, o qual se manterá em ligações constantes […]” [20] [21].

 

Curiosamente, apenas o jornal The Anglo-Portuguese News refere o preço de utilização da Seapool — 40 escudos para as senhoras, 50 para os homens, aos fins-de-semana, 30 escudos para as senhoras, 40 para os homens, nos dias úteis — talvez por serem valores não acessíveis à maioria da população [22] e que, declarados nos jornais de circulação corrente, poderiam refletir-se negativamente na perceção da praia-piscina-flutuante.

Figura 10 – Let’s go to the sea, but off-shore (s.d.) (Fonte: publicação não identificada. Cedida, em cópia digital, por José Borges, originalmente pertencente ao arquivo de um ex-colaborador de Eduardo Anahory).

 

 

O artigo intitulado Let’s go to the sea, but off-shore, cuja publicação de origem não foi possível identificar [23], acrescenta mais algum detalhe técnico ao sistema construtivo da Seapool: cada módulo, fabricado pela empresa Vemol [24], é constituído por dois flutuadores divididos em quatro compartimentos, feito de polyester reforçado, moldado como uma peça única, e os bordos de cada módulo têm negativos para o encaixe de acessórios metálicos — peças de ligação articuladas entre os módulos, fixação da rede que delimita as paredes e fundo da piscina, fixação da guarda periférica, peças de montagem para o bar e as instalações sanitárias, e pontos de ancoragem/amaragem — o que, para além de permitir que os módulos possam ser conjugados de diversos modos, formando jangadas de várias formas, denota a sofisticação conceptual do projeto de Anahory, resultado de um claro domínio da construção a partir de elementos pré-fabricados.

Para além de desenhos que ilustram as diferentes possibilidades de transporte e montagem da Seapool, o artigo inclui, ainda, uma imagem aérea desta, que não é possível afirmar com certeza que se trata de uma fotografia de facto, podendo tratar-se de uma fotomontagem. Não obstante, permite perceber a sua localização (real/desejada) ao largo do Tamariz.

Figura 11 – A Seapool, 1970 (Fonte: A Capital. Ano III nº 846, 02/07/1970, p. 8).

 

 

No que refere à comunicação visual da Seapool, é interessante perceber que, com a exceção da edição de 3 de julho de O Século, que apresenta uma fotografia efetivamente captada durante a visita dos representantes da imprensa, todos os outros jornais ilustram as suas reportagens com fotografias que, cremos, terão sido fornecidas pela Sociedade Estoril-Sol, o que se pode verificar comparando estas imagens com a reportagem videográfica da RTP [25] daquela mesma visita. É verdade que, vista da praia, à distância de 300 metros, a Seapool tinha uma presença pouco expressiva, com os menos de 60cm a que o seu deck se elevava da superfície do mar, e que o colorido do volume do bar, e das bandeiras e guarda-sóis, procurava contrariar, percebendo-se que Anahory e a Sociedade Estoril-Sol pudessem pretender transmitir uma imagem com maior apelo. No entanto, um olhar mais atento sobre este conjunto de fotografias permite discernir o seu carácter declarativamente encenado, de corpos esbeltos (talvez membros do corpo de baile do Casino?) em poses descontraídas e bikinis e fatos de banho ousados, construindo uma narrativa cosmopolita, de prazer, e até de um certo abandono hedonista, em claro contraste com a realidade do país fora da bolha turística, e social, do Estoril daquelas décadas. Estas imagens parecem, então, hoje, aos nossos olhos, naquilo que se poderia classificar como um acto subtilmente subversivo, pretender afirmar a Seapool como um lugar ao largo: da praia e do país.

Frequentada pelo mesmo beautiful people que frequentava a noite elegante de Cascais e do Estoril [26], de que era em certa medida a expressão solar, a Seapool, na sua existência que se desejava sazonal (mas acabou por ser efémera), terá logrado construir uma espécie de heterotopia feliz, um lugar (privilegiado, há que admitir) de sofisticada liberdade pré-lapsariana. Uma liberdade boémia e chic, característica comum aos lugares construídos por Eduardo Anahory (BORGES: 2010: 56).

Figura 12 – Anúncio de reabertura da Seapool, 1971 (Fonte: A Capital, ano IV nº 1211, 09/07/1971, p.12).

 

 

Aparte um artigo no nº 294-295 da revista Lisbon Courier de outubro de 1970, que refere que “a despeito o elevado número dos seus utentes e de ter suportado por vezes ventos e ondulações fortes [a Seapool] não sofreu quaisquer estragos nas peças componentes” e que “agora desmontada e armazenada, voltará a ser instalada no próximo Verão”, não parece ter havido eco na imprensa, generalista ou especializada, da sua receção.

Nos verões dos dois anos seguintes, a Seapool voltaria a ser montada ao largo do Tamariz, como atestam os anúncios à sua reabertura publicados n’A Capital, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Diário Popular, e O Século. A baixa dos preços, anunciada em 1972, parece indiciar uma tentativa de contrariar uma eventual diminuição dos seus utilizadores, passada a novidade. Terá sido o seu último verão.

 

4. MAIS MAR

4.1 Ocean-chart: topos e locus

 

“He had bought a large map representing the sea,

Without the least vestige of land:

And the crew were much pleased when they found it to be

A map they could all understand.

 

‘What’s the good of Mercator’s North Poles and Equators,

Tropics, Zones, and Meridian Lines?’

So the Bellman would cry: and the crew would reply

‘They’re merely conventional signs!’

 

‘Other maps are such shapes, with their islands and capes!

But we’ve got our brave Captain to thank’

(So the crew would protest) ‘that he’s bought us the best —

A perfect and absolute blank!’” (CARROLL, 1876).

 

 

A modesta radicalidade do conceito da praia-piscina-flutuante expressa-se com maior intensidade no ato de inscrição de um limite que circunscreve uma superfície (e um volume) de água na vastidão do mar. A experiência deste troço de mar, delimitado na (e à vista da) expansividade do próprio mar, ter-se-á configurado, então, como uma possibilidade de experiência sinedóquica pars pro toto: espécie de intensa condensação da incomensurabilidade do todo.

Figura 13 – Ocean-Chart, versão de 1931 de ilustração do poema The Hunting of the Snark, de Lewis Carrol, 1876 (Disponível em: wikimedia.org).

 

 

O exemplo satírico de Carroll, citado acima, de um mapa do mar, um Ocean Chart, que nos mostra apenas isso, o mar, não deixa, no entanto, de nos remeter para a concepção agostiniana de que “para tornar a incomensurabilidade do espaço praticável, é necessário experienciá-lo a partir de um ponto no centro” (ABEN; DE WIT, 1999: 48) (tradução do autor), ou seja, que a forma de podermos compreender e lidar com a infinitude do espaço é dividi-lo em porções finitas e mensuráveis (idem: 160).

A operação de circunscrição, como tentativa de compreensão, é um processo operativo — com tanto de tradição vernacular como de erudita — frequente na na construção da (e na) Paisagem. Com efeito, “etimologicamente, fisicamente e ontologicamente, o jardim é um recinto: uma entidade recortada num território […], individualizada e autónoma” (BRUNON; MOSSER, 2005: 321) (tradução do autor).

Enquanto artefacto inscrito num território, a Seapool opera uma transfiguração que podemos analisar por esse mesmo prisma conceptual, na medida em que se constrói “em relação, na e por oposição à Paisagem em que se inscreve, [d]elimita-se nela e dela, condensa-a, isola e re-contextualiza elementos que a compõem […]” (BEIRAMAR DINIZ, 2006: 56). Pode, então, ser metonomicamente entendida como uma (outra) forma de hortus: um hortus aqueus ou um hortus oceanicus.

Sobre um topos arquetípico, o Mar, Anahory, operando uma concentração de identidade (KLUGE, 2011: 21), inscreveu, nessa medida, um locus, “lugar existencial, onde se é, se está, onde se criam e constroem ocasiões e oportunidades de habitar” (CARAPINHA, [2006]: 65).

 

4.1 Seapool: um artefacto-evento

Gérard Monnier define o edifício-evento como um edifício “que supõe o uso massivo de técnicas de informação, e entra assim com força e de súbito no espaço público (no sentido definido por Habermas) a fim de aí instalar uma representação significativa” (MONNIER, 2005: 294). Na tipologia que se propõe esquissar para caracterizar o edifício-evento no campo da história da arquitetura contemporânea, inscreve a sua divisão em dois tipos: o edifício-evento “acontecido” e o edifício-evento “programado” (idem: 296) (tradução do autor) [27]. Este último é enquadrável em diversas categorias -— o edifício maior, o edifício temporário, o edifício simbólico, o projeto célebre, a destruição voluntária, e o evento polémico — sendo que nos interessa aqui sobretudo a segunda, o edifício temporário (sem descartar as restantes), e a possibilidade de utilizar este quadro conceptual para propor um olhar sobre a praia-piscina-flutuante e a sua inclusão numa constelação de afinidades. Assumindo a sua ambiguidade de inscrição disciplinar — arquitetura, design, paisagem — de onde resulta que, em sentido estrito, a Seapool não se pode caracterizar como um edifício, propomos adotar-se então, operativamente, a denominação de artefacto-evento.

A análise feita, nos capítulos anteriores, do processo deliberado, e claramente planeado, de comunicação da ideia, primeiro, do projeto e da sua materialização, depois, permite-nos assim enquadrar, retrospetivamente, a Seapool na definição, adaptada de Monnier, de artefacto-evento, assumindo-se a necessária distância imposta por um tempo anterior ao presente desenvolvimento da comunicação de massas. Não obstante, Eduardo Anahory, primeiro a solo, e depois com o apoio da Sociedade Estoril-Sol, fez claramente uso de técnicas de informação a uma escala, e com uma expertise, pouco comuns na comunicação de arquitetura do seu tempo, não só em Portugal, colocando assertivamente o seu projeto no espaço de discussão pública, procurando aí instalar um discurso significativo.

A Seapool, apesar da sua singularidade, não está, no entanto, sozinha naquela que poderíamos denominar subcategoria flutuante dos artefactos-evento da contemporaneidade. Se lhe quisermos construir uma possível constelação de afinidades, teremos de incluir, por ordem cronológica, a Floating Island to travel around Manhattan Island, de Robert Smithson (1970-2005), os The Floating Piers, de Christo e Jeanne-Claude (1970-2016), a acima citada piscina flutuante de Delirious New York, de Rem Koolhaas (1978), o Teatro del Mondo, de Aldo Rossi, para a primeira Bienal de Arquitectura de Veneza (1979-1980), ou a Floating Pool Lady, de Ann L. Buttenwieser, em Nova Iorque (2007).

Com invulgar capacidade para captar o ar do seu tempo, Eduardo Anahory criou um artefacto-evento antes mesmo de estes terem sido, de facto, conceptualizados. Hoje atingiria, cremos, a (agora tão desejada) viralidade: a Seapool seria, durante 15 minutos, “the most popular structure in the history of Modern Architecture” (KOOLHAAS, 1978: 307).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O percurso singular que Eduardo Anahory construiu na arquitetura portuguesa, sobretudo nas décadas de 1950 e 1960, encontra na Seapool, a praia-piscina-flutuante do Tamariz, uma possibilidade de peculiar síntese, apesar (ou talvez por causa) da sua ambiguidade tipológica e mesmo disciplinar. Exemplo de um modo de enfrentar o processo de projeto (incluindo a criação da sua oportunidade), no cruzamento do domínio da conceção espacial, da conceção técnica e de fabricação (que se estende, sem sobressaltos, dos processos artesanais à pré-fabricação industrial), mas também no domínio dos processos de comunicação, a obra de Anahory esbate várias fronteiras, aproximando-se da possibilidade de uma obra total.

 

Singular é, também, a perceção clara que Anahory tem da inovação técnica que as explorações que empreende em cada projeto representa, e que se reflete nas várias patentes que regista, e que não se limitaram ao projeto específico da Seapool.

 

A dimensão total, quer matérica quer conceptual, da sua obra encontra-se, ainda, em grande medida, por estudar, e o seu devido lugar na história da arquitetura contemporânea por repor. Esta investigação pretende ser mais um passo nessa direção.

 

 

Bibliografia

 

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TSAI, Eugenie (ed.) — Robert Smithson. Los Angeles: The Museum of Contemporary Art Los Angeles, 2004.

 

Artigos na imprensa diária e semanal

Piscinas-praias flutuantes — uma ideia para zonas da costa sem praia ou para praias superlotadas. Diário de Lisboa. Ano 47º nº 16011, 16/07/1967, p. 13.

Sonho de uma noite de Verão? Jornal da Costa do Sol. Ano IV nº 186, 11/11/1967, p. 1.

Regresso à normalidade: O trabalho recomeça e Paris recupera a fisionomia habitual. Diário de Notícias. Ano 104 nº 36726, 06/06/1968, p. 1,7.

A Praia do Estoril valorizada com as novas instalações balneárias do Tamariz. Diário de Notícias. Ano 104 nº 36730, 07/06/1968, p. 11.

O Novo Estabelecimento de banhos de mar do Estoril. Jornal da Costa do Sol. Ano V nº 217, 15/06/1968, p. 1, 10.

Piscinas-praias flutuantes (anunciadas há um ano no “Diário de Lisboa”) vão ser estudadas por técnicos. Diário de Lisboa. Ano 48º nº 16371, 17/07/1968, p. 10-11.

A construção de uma esplanada entre Cascais e Monte Estoril. Diário Popular. Ano XXVI nº 9249, 17/07/1968, p. 10.

Piscinas flutuantes ao largo de praias portuguesas. Diário Popular. Ano XXVI nº 9249, 17/07/1968, p. 15.

Uma praia-piscina flutuante, invento português para utilidade turística. A Capital. Ano I nº 47, 17/07/1968, p. 5.

O Estoril vai ter uma piscina de mar? Publicação não identificada, 17/07/1968.

Piscinas desmontáveis concebidas por um artista português. Diário de Notícias. Ano 104º nº 36772, 20/07/1968, p. 7.

Esplanada à beira-mar do Monte Estoril a Cascais. Jornal da Costa do Sol. Ano V nº 222, 20/07/1968, p. 1.

Frente à Praia do Tamariz a primeira praia-piscina flutuante. A Capital. Ano III nº 846, 02/07/ 1970, p. 8.

Ao largo do Tamariz uma piscina-flutuante valoriza a cosmopolita zona balnear do Estoril. Diário de Lisboa. Ano 50º nº 17072, 02/07/1970, p. 8-9.

Novo tipo de piscina inaugurado amanhã no Estoril. Diário Popular. Ano XXVIII nº 9950, 02/07/1970, p. 23.

Uma piscina-flutuante é inaugurada amanhã ao largo da praia do Tamariz. O Século. Ano 90º nº 31683, 02/07/1970, p. 5.

Uma piscina flutuante ao largo do Tamariz. República. Ano 60 nº 14162, 02/07/1970) p. 8.

Uma piscina flutuante é hoje inaugurada na Praia do Estoril. Diário de Notícias. Ano 106º nº 37472, 03/07/1970, p. 7.

Uma piscina flutuante à disposição do público a partir de hoje em frente ao Tamariz. O Século. Ano 90º nº 31684, 03/07/1970, p. 5.

Uma piscina flutuante no mar (frente ao Tamariz) foi inaugurada pela Sociedade Estoril-Sol. Jornal da Costa do Sol. Ano VII nº 325, 11/07/1970, p. 5.

Seapool. The Anglo-Portuguese News. Nº 979, 11/07/1970, p. 5.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. A Capital. Ano IV nº 1211, 09/07/1971, p. 12.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. Diário de Lisboa. Ano 51º nº 17437, 09/07/1971, p. 4.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. Diário de Notícias. Ano 107º nº 37836, 09/07/1971, p. 19.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. Diário Popular. Ano XXIX nº 10315, 09/07/1971, p. 8.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. O Século. Ano 91º nº 32049, 10/07/1971, p. 2.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. Diário de Notícias. Ano 108º nº 38192, 06/07/1971, p. 2.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. Diário Popular. Ano XXX nº 10671, 06/07/1971, p. 15.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. O Século. Ano 92º nº 32404, 06/07/1971, p. 2.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. Diário de Lisboa. Ano 52º nº 17795 (8 de Julho, 1972) p. 12.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. Diário de Notícias. Ano 108º nº 38194, 08/07/1972, p. 2.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. Diário Popular. Ano XXX nº 10673, 08/07/1972, p. 12.

Reabriu a Piscina Flutuante do Tamariz [anúncio]. O Século. 92º nº 32406, 08/07/1972, p. 2.

 

 

Outros recursos

 

Patentes

ANAHORY, Eduardo — Floating Artificial Beach. Austrália: Intelectual Property Australia, 1970 [1968]. AU1968044066. Disponível em: https://ipsearch.ipaustralia.gov.au/patents/1968044066 [Consult. 06/06/2024].

ANAHORY, Eduardo — Módulo e Estrutura Flutuantes e Embarcação. 1979 [1978] BR7802383. Disponível em: https://worldwide.espacenet.com/publicationDetails/biblio?DB=EPODOC&II=5&ND=3&adjacent=true&locale=en_EP&FT=D&date=19791127&CC=BR&NR=7802383A&KC=A [Consult. 06/06/2024].

SILVA, António Bustorff; BELO, Duarte; ANAHORY, Eduardo — Brevet d’Invention: Plage Artificielle Flottante. Paris: Ministère de L’Industrie, Service de Propriété Industrielle, 1968.. FR1525436. Disponível em: https://worldwide.espacenet.com/publicationDetails/biblio?DB=EPODOC&II=4&ND=3&adjacent=true&locale=en_EP&FT=D&date=19680517&CC=FR&NR=1525436A&KC=A [Consult. 06/06/2024].

 

Registos videográficos

 

Arquivos RTP — Praia Piscina Flutuante no Estoril. Lisboa: Rádio Televisão Portuguesa, 1970. 36s, p&b, mudo. Disponível em: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/praia-piscina-flutuante-no-estoril/ [Consult. 16/05/2024].

Arquivos RTP — Inauguração da Praia Piscina Flutuante no Estoril. Lisboa: Rádio Televisão Portuguesa, 1970. 3m 50s, p&b, mudo. Disponível em: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/inauguracao-da-praia-piscina-flutuante-no-estoril/ [Consult. 16/05/2024].

Notas

1. “Sempre foi, porém, e sempre será um cidadão do mundo, jamais se prenderá por inteiro a um rincão ou a uma escola, nem sequer a uma única forma de expressão.” Jorge Amado, sobre Eduardo Anahory (BORGES, 2010: 203).

2. A esta estadia no Brasil não terá sido, naturalmente, indiferente o avanço do exército alemão na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial.

3. Cronologia, biográfica e profissional, adaptada de BORGES, 2010.

4. Slogan da publicidade à praia-piscina-flutuante, na imprensa diária, nos verões de 1971 e 1972.

5. Segundo Graça Anahory Vasconcelos e Ana Tostões, em entrevistas no âmbito desta investigação.

6.  A lista de contactos de Anahory baseia-se nos nomes identificados em BORGES, 2010, a que se acresceu a identificação de pessoas ali nomeadas indiretamente.

7.  Aiola é o nome que Anahory tomou emprestado de uma embarcação de pesca artesanal típica de Sesimbra.

8. Para além de partilharem o ano de nascimento, Anahory e Athouguia coincidiram na frequência do curso de arquitetura em ambas as Escolas de Belas-Artes de Lisboa e do Porto, e pelo menos no projeto da Fundação Calouste Gulbenkian. Athouguia terá chegado a projetar uma “casa abarracada” de férias para a Arrábida, ao lado da de Anahory, que não chegaria a construir (CORREIA, 2018: 299).

9. “O arquitecto Pedro Cid, também presente, assumiu a autoria do projecto somente perante os orgãos institucionais. Anos mais tarde (após a morte de Eduardo Anahory) o sobrinho José Anahory ter-lhe-á perguntado sobre a sua participação no Hotel [do Porto Santo] à qual Cid volta a afirmar que somente assinara o projecto, o trabalho foi todo desenvolvido no atelier de Anahory.” (BORGES, 2010: 116)

10. BORGES, 2010, é precedido por TABORDA, 2007, num artigo apenas focado na Casa Aiola, e na proposta da sua reposição.

11. Refere-se, a título de curiosidade, que é neste número da Domus, nas páginas imediatamente a seguir ao artigo referente à praia-piscina-flutuante, que é publicado o artigo de Joseph Rykvert, Un ommagio a Eileen Gray pioniera del design, que iniciaria o movimento de redescoberta da obra de Gray.

12. A patente nº 1.525.436 indica 3 datas no seu cabeçalho, pela seguinte ordem: “Solicitada em 9 de maio de 1967, às 14 horas, em Paris. Emitida por despacho de 8 de abril de 1968. (Boletim Oficial da Propriedade Industrial, nº 20, de 17 de maio de 1968.). (Pedido de patente depositado em Portugal em 9 de maio de 1966, sob o nº 45.738, em nome dos requerentes.)” (tradução do autor).

13. Trata-se do Hotel Algarve, sobre a Praia da Rocha, Portimão, com projeto de Raul Tojal, inaugurado em 1967 (BORGES, 2010: 143).

14. Uma terceira patente foi registada por Anahory no Brasil em 1978, e publicada em 1979.

15. O projeto é apresentado publicamente em julho de 1968, antes, portanto, da submissão desta patente.

16. Refere-se como curiosidade, mas também como expressão da sua relevância social e cultural, que uma fotografia da Piscine Deligny aparece na capa da edição de 2 de junho de 1968 do Jornal de Notícias como ilustração do regresso de Paris à normalidade após os confrontos do mês anterior.

17. Artista, decorador e maquetista, Ticiano Violante foi o executor, entre outras, da maquete da cidade de Lisboa pré-terramoto hoje exposta no Museu de Lisboa – Palácio Pimenta.

18. Referimo-nos à notícia O Estoril vai ter uma piscina de mar?, cuja cópia digital nos foi cedida por Luiza Carrelhas Albuquerque (sobrinha-neta de Eduardo Anahory), e cuja publicação de origem não foi possível identificar.

19. O equivalente, hoje, a duzentos e quarenta mil a trezentos e vinte mil euros.

20. Os textos publicados nos vários jornais apresentam variações pontuais, e até imprecisões (planeado em vez de patenteado, granito em vez de granitado, entre outras). O excerto que aqui se transcreve é do artigo Ao largo do Tamariz uma piscina-flutuante valoriza a cosmopolita zona balnear do Estoril, do Diário de Lisboa, Ano 50º nº 17072 (2 de julho, 1970) p. 8-9.

21. O trajeto de barco partia do pontão a nascente da praia do Tamariz, como se pode ver na reportagem RTP da inauguração oficial, disponível em: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/inauguracao-da-praia-piscina-flutuante-no-estoril/

22. 50 escudos equivaleriam, hoje, a cerca de 18 euros.

23. Artigo cedido, em cópia digital, por José Borges, originalmente pertencente ao arquivo de um ex-colaborador de Eduardo Anahory.

24. A Vemol foi uma empresa especializada em plásticos reforçados, com quem Anahory voltaria a trabalhar no projeto de uma plateia desmontável (BORGES, 2010: 160).

25. Disponível em: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/praia-piscina-flutuante-no-estoril/

26. Conforme relato de Ana Tostões, em entrevista.

27. Édifice-événement ‘subi’ e édifice-événement ´programmé’, no original. A tradução literal de subi é “sofrido”, entendeu-se, no entanto, que “acontecido” representa uma melhor tradução da intenção do seu autor.